Outro dia entrei numa loja de produtos religiosos para comprar velas e fiquei conversando com a dona, uma senhora muito simpática. Num dado momento, duas jovens de não mais que 17 anos chegaram. Compraram duas taças em formato de caveira, alguns incensos e velas. Quando as duas sairam, a senhora da loja disse que elas eram "wiccas" e que muita gente "wicca" aparecia por lá em busca das taças de caveira e do livro de São Cipriano. Segundo essas mesmas pessoas, realizavam seus rituais em cemitérios.
Eu achei super curiosa e um tanto quanto bizarra a ligação da Wicca com o santo católico. Esse assunto ficou martelando a minha cabeça por dias e dias, até que eu resolvi sentar aqui e escrever um pouco sobre os dois assuntos.
Primeiro falemos de São Cipriano...
Cipriano, pelo que se sabe, nasceu por volta de 250 d.C, e converteu-se ao cristianismo depois de conhecer Justina (que foi canonizada, assim como Cipriano).
Antes de sua conversão, porém, Cipriano estudou ocultismo, dedicando-se a práticas mágicas que, ao que parece, por obra da deturpação inerente à história do paganismo, foram associadas ao demônio.
Muito da obra do referido santo católico foi queimada, dizem, por ele mesmo. O que permaneceu é hoje conhecido como os livros de São Cipriano. Neles estão contidos alguns ensinamentos e algumas bizarrices também. Tive a oportunidade de ler algumas vezes, estudando um pouco a trajetória de Cipriano, arrisco dizer que ali também encontramos deturpações. Teriam sido forjadas pelo próprio Cipriano, após a sua conversão, a fim de atribuir ao demônio a responsabilidade por suas práticas? Talvez. De fato, me parece uma saída bem confortável praticar o que chamamos de baixa magia, colocar a culpa no Diabo e nos colocarmos em posição de vítimas.
As poucas obras de Cipriano que restaram teriam sido alteradas por aqueles que as traduziram? Possível também, vez que na própria bíblia encontramos interpolações. No entanto, um estudo profundo dos originais seria necessário para poder dizer se alterações posteriores foram feitas.
Existe ainda a possibilidade de Cipriano ter realmente estudado práticas deturpadas de ocultismo. Nesse caso, os escritos seriam obra dele mesmo, bem com a cara que se vê hoje.
De qualquer forma, paira em torno desses escritos uma nuvem de mistério, poder oculto e fruto proibido. Tanto que até hoje muita gente acredita dar má sorte possuir esse livro.
Talvez seja esse o motivo de pessoas relacionarem a leitura da obra com a Wicca. A própria Wicca é pouco compreendida e atrai pessoas que buscam poderes mirabolantes, feitiços para amarrar o par, adolescentes rebeldes – muitas vezes sem causa. A maioria desconhece sua origem e seus preceitos. Dentro da própria Wicca poucos aprofundam os estudos, poucos buscam as raízes daquilo que dizem cultuar.
Posso dizer com firmeza o que muitos já disseram: Wicca nada tem a ver com práticas que são associadas ao diabo cristão. Os wiccanos ou wiccanianos não crêem no diabo cristão e, por obviedade, não o invocam em seus sabás.
Pratica Wicca de forma correta aquele que celebra o ciclo vida-morte-renascimento.
Foi bastante difundida por Gardner, Sanders entre outros, e possui elementos de práticas antigas e modernas. Por isso é chamada de neopagã. Talvez resida nos termos “neopagão” e “pré cristão” o cerne de discussões acirradas sobre a origem da Wicca. Porém, são termos que não se confundem.
Neopagão é aquele que pratica alguma das religiões que buscam resgatar práticas pagãs.
Pré cristão é tudo aquilo que veio antes de Cristo, incluindo-se nesse “tudo” cultos.
A Wicca possui elementos pré cristãos? Sim, possui. E não só a Wicca. Diversas religiões possuem. O que acontece é que esses elementos são, muitas vezes, adaptados, remodelados, incorporados a outros, ganham novos significados, novas interpretações. É um processo que ocorre em todo tipo de crença. A religião é moldada conforme os ditames dos seres humanos, seus hábitos, seus medos, seus desejos. Isso não diminui uma crença. Creio que a ânsia humana por uma verdade absoluta seja tão forte, que tendemos a achar que encontraremos essa verdade em algo que veio antes de nós, algo que somente os antigos sábios tinham acesso, algo que se perdeu e que precisa ser resgatado.
Bem... o fato é que não existe uma verdade absoluta dita pelos seres humanos.
A Wicca nasceu sob esse prisma, com certeza.
Certa de que a Wicca é uma religião neopagã e não pré cristã é que digo: Apesar de celebrar também a morte, uma pessoa que pratica Wicca não sacrifica animais, por mais que possamos constatar que civilizações pré cristãs o faziam.
Diante dessas idéias é que volto a perguntar: O que teria a ver uma pessoa que se diz praticar Wicca buscar em São Cipriano algum ensinamento?
Parece que algumas pessoas gostam de viver à sombra do prosaico catolicismo, gostam de se imaginar no fogo da inquisição. Como alguns evangélicos que falam mal dos católicos, mas que crêem num diabo muito mais poderoso que o dos católicos, e que se não fosse esse diabo não conseguiriam encher os bolsos de dinheiro a custa do medo alheio.
Engraçado que, muitas vezes, as mesmas pessoas que compram um livro de Cipriano para fazer rituais em cemitério são aquelas que mandam e-mails indignados sobre reportagens que falam que Wicca, bruxaria, feitiçaria é coisa do capeta.
Que tal começarmos a defender aquilo que acreditamos de forma correta e clara? Estudando de tudo, até Cipriano, se for o caso, mas deixando cada coisa em sua gaveta.
Que tal nos posicionar como pessoas de fato felizes pelo fim da inquisição, cientes da conotação política que essa ação teve no passado?
Que tal nos voltar aos ensinamentos reais de uma religião que cultua a natureza e tudo que ela contém? As trevas, a escuridão, a obscuridade, a destruição, o oculto... Mas também, a luz, o dia, o sol, as cores, os nascimentos?
Que tal aprendermos o que é viver o ciclo vida-morte-renascimento com mais prazer, mais liberdade, mais conhecimento, mais responsabilidade, agindo em prol da Mãe Terra, sem jogar papel ou pontas de cigarro na rua?
Espero que possamos entender que é possível beber água de muitas fontes,e que, embora em todas as fontes encontremos água, o caminho para chegar a cada fonte é diferente, e a água pode adquirir características diferentes de uma fonte para outra.
Bênçãos!
Eu achei super curiosa e um tanto quanto bizarra a ligação da Wicca com o santo católico. Esse assunto ficou martelando a minha cabeça por dias e dias, até que eu resolvi sentar aqui e escrever um pouco sobre os dois assuntos.
Primeiro falemos de São Cipriano...
Cipriano, pelo que se sabe, nasceu por volta de 250 d.C, e converteu-se ao cristianismo depois de conhecer Justina (que foi canonizada, assim como Cipriano).
Antes de sua conversão, porém, Cipriano estudou ocultismo, dedicando-se a práticas mágicas que, ao que parece, por obra da deturpação inerente à história do paganismo, foram associadas ao demônio.
Muito da obra do referido santo católico foi queimada, dizem, por ele mesmo. O que permaneceu é hoje conhecido como os livros de São Cipriano. Neles estão contidos alguns ensinamentos e algumas bizarrices também. Tive a oportunidade de ler algumas vezes, estudando um pouco a trajetória de Cipriano, arrisco dizer que ali também encontramos deturpações. Teriam sido forjadas pelo próprio Cipriano, após a sua conversão, a fim de atribuir ao demônio a responsabilidade por suas práticas? Talvez. De fato, me parece uma saída bem confortável praticar o que chamamos de baixa magia, colocar a culpa no Diabo e nos colocarmos em posição de vítimas.
As poucas obras de Cipriano que restaram teriam sido alteradas por aqueles que as traduziram? Possível também, vez que na própria bíblia encontramos interpolações. No entanto, um estudo profundo dos originais seria necessário para poder dizer se alterações posteriores foram feitas.
Existe ainda a possibilidade de Cipriano ter realmente estudado práticas deturpadas de ocultismo. Nesse caso, os escritos seriam obra dele mesmo, bem com a cara que se vê hoje.
De qualquer forma, paira em torno desses escritos uma nuvem de mistério, poder oculto e fruto proibido. Tanto que até hoje muita gente acredita dar má sorte possuir esse livro.
Talvez seja esse o motivo de pessoas relacionarem a leitura da obra com a Wicca. A própria Wicca é pouco compreendida e atrai pessoas que buscam poderes mirabolantes, feitiços para amarrar o par, adolescentes rebeldes – muitas vezes sem causa. A maioria desconhece sua origem e seus preceitos. Dentro da própria Wicca poucos aprofundam os estudos, poucos buscam as raízes daquilo que dizem cultuar.
Posso dizer com firmeza o que muitos já disseram: Wicca nada tem a ver com práticas que são associadas ao diabo cristão. Os wiccanos ou wiccanianos não crêem no diabo cristão e, por obviedade, não o invocam em seus sabás.
Pratica Wicca de forma correta aquele que celebra o ciclo vida-morte-renascimento.
Foi bastante difundida por Gardner, Sanders entre outros, e possui elementos de práticas antigas e modernas. Por isso é chamada de neopagã. Talvez resida nos termos “neopagão” e “pré cristão” o cerne de discussões acirradas sobre a origem da Wicca. Porém, são termos que não se confundem.
Neopagão é aquele que pratica alguma das religiões que buscam resgatar práticas pagãs.
Pré cristão é tudo aquilo que veio antes de Cristo, incluindo-se nesse “tudo” cultos.
A Wicca possui elementos pré cristãos? Sim, possui. E não só a Wicca. Diversas religiões possuem. O que acontece é que esses elementos são, muitas vezes, adaptados, remodelados, incorporados a outros, ganham novos significados, novas interpretações. É um processo que ocorre em todo tipo de crença. A religião é moldada conforme os ditames dos seres humanos, seus hábitos, seus medos, seus desejos. Isso não diminui uma crença. Creio que a ânsia humana por uma verdade absoluta seja tão forte, que tendemos a achar que encontraremos essa verdade em algo que veio antes de nós, algo que somente os antigos sábios tinham acesso, algo que se perdeu e que precisa ser resgatado.
Bem... o fato é que não existe uma verdade absoluta dita pelos seres humanos.
A Wicca nasceu sob esse prisma, com certeza.
Certa de que a Wicca é uma religião neopagã e não pré cristã é que digo: Apesar de celebrar também a morte, uma pessoa que pratica Wicca não sacrifica animais, por mais que possamos constatar que civilizações pré cristãs o faziam.
Diante dessas idéias é que volto a perguntar: O que teria a ver uma pessoa que se diz praticar Wicca buscar em São Cipriano algum ensinamento?
Parece que algumas pessoas gostam de viver à sombra do prosaico catolicismo, gostam de se imaginar no fogo da inquisição. Como alguns evangélicos que falam mal dos católicos, mas que crêem num diabo muito mais poderoso que o dos católicos, e que se não fosse esse diabo não conseguiriam encher os bolsos de dinheiro a custa do medo alheio.
Engraçado que, muitas vezes, as mesmas pessoas que compram um livro de Cipriano para fazer rituais em cemitério são aquelas que mandam e-mails indignados sobre reportagens que falam que Wicca, bruxaria, feitiçaria é coisa do capeta.
Que tal começarmos a defender aquilo que acreditamos de forma correta e clara? Estudando de tudo, até Cipriano, se for o caso, mas deixando cada coisa em sua gaveta.
Que tal nos posicionar como pessoas de fato felizes pelo fim da inquisição, cientes da conotação política que essa ação teve no passado?
Que tal nos voltar aos ensinamentos reais de uma religião que cultua a natureza e tudo que ela contém? As trevas, a escuridão, a obscuridade, a destruição, o oculto... Mas também, a luz, o dia, o sol, as cores, os nascimentos?
Que tal aprendermos o que é viver o ciclo vida-morte-renascimento com mais prazer, mais liberdade, mais conhecimento, mais responsabilidade, agindo em prol da Mãe Terra, sem jogar papel ou pontas de cigarro na rua?
Espero que possamos entender que é possível beber água de muitas fontes,e que, embora em todas as fontes encontremos água, o caminho para chegar a cada fonte é diferente, e a água pode adquirir características diferentes de uma fonte para outra.
Bênçãos!