13 de junho de 2012

Aquele bruxo cultua o QUÊ? Por Dylan Siegel TCS


Se você está na comunidade wiccana há algum tempo já deve ter percebido o hábito muito feio de alguns bruxos de criticar indiscriminadamente o trabalho alheio.  Caso ainda não tenha tido uma oportunidade de ver esse mau hábito em ação, pergunte em qualquer grupo ou lista de discussão o que os membros acham da autora Eddie Van Feu (que não é wiccana, mas escreve sobre Wicca), da invocação de anjos em ritos wiccanos, do culto a Exu e de considerar Maria uma face da Deusa.

Você receberá opiniões inúmeras, mas garanto que a maior parte delas será inflamada e criticando veementemente os tópicos que mencionei.  Interessantemente (ou tristemente), vejo que bruxos gastam uma imensa quantidade de energia discutindo tópicos dessa natureza e argumentando que pessoas que fazem práticas dessa natureza não estão fazendo Wicca.  Quando essas discussões chegam até mim, normalmente a minha vontade é perguntar 
“E o que você tem a ver com o culto de outro bruxo?”.

Um exemplo da capacidade wiccana de criticar a prática alheia, e que sempre foi popular, é falar mal da Eddie Van Feu.  Para quem não sabe, a Eddie é autora de livros sobre Wicca, Bruxaria e Magia e é mais bem conhecida pela publicação da revista Wicca.  Os críticos da autora argumentam que ela não pratica Wicca (e a própria Eddie confirma isso), que os livros dela são fracos, que ela faz uma mistureba de Wicca com outras práticas religiosas, principalmente cristãs, e que ela faz iniciações ao fim de alguns de seus cursos pagos.  Dois desses argumentos (mistureba e iniciações pagas) incomodam tanto alguns bruxos que aparentemente faz eles se esquecerem de que a própria autora não se considera wiccana.  Ela tem a prática dela, Bruxaria eclética, Wicca Eddievanfeuana, ou sei lá, e está seguindo as crenças dela e escrevendo livros sobre o que ela pratica.  Porque diabos isso incomodaria outras pessoas?

E a respeito do culto a Maria ou do culto a anjos e orixás?  Alguns bruxos argumentam que é um absurdo um wiccano incorporar esses elementos em seu culto e que, na verdade, essa incorporação faz com que o culto dele não seja, na verdade, Wicca.  O que acontece em seguida é o assunto virar uma discussão inflamada porque bruxos que cultuam Maria, anjos e orixás sentem-se ofendidos por considerarem-se wiccanos.  E quem está certo, no final das contas?

Na verdade, ninguém está certo e todo mundo está certo ao mesmo tempo.  Esse hábito de criticar a prática sacerdotal alheia vem de duas características humanas: orgulho, no caso dos críticos, e necessidade de aprovação, no caso dos criticados.  Para críticos, não basta simplesmente sentir que seu culto é válido e sagrado, você precisa que as pessoas ao seu redor mudem a maneira delas pensarem e façam tudo da mesma maneira como você faz.  Para criticados, não basta ser feliz com a sua prática, as pessoas precisam concordar com o que você faz e verbalizar a concordância delas.  É muito, muito difícil encontrar um bruxo que simplesmente não dê a mínima bola para o que os outros pensem da sua prática sacerdotal.  A sensação que dá é que a comunidade wiccana está sempre brigando o tempo inteiro por coisas que não tem absolutamente nenhuma importância.

Veja bem, criticar é parte de nossos direitos de liberdade de expressão, mas a Wicca é uma religião de tolerância, então não consigo entender porque incomoda tanta gente a Divindade que beltrano cultua e a entidade que o fulano invoca para o círculo dele.  Faz algum sentido pregar veementemente contra o preconceito a homossexuais e discriminar wiccanos que cultuam Maria?

Se você quer celebrar sua Roda do Ano pelas datas do hemisfério Sul, pelo hemisfério Norte ou pelo hemisfério oculto das sendas secretas do antigo caminho das fadas mudas de Pindamonhangaba, vá e seja feliz.  Por que eu iria me incomodar com a sua decisão? A prática é sua e eu não tenho o direito de dizer que você está errado.  Se você considera errado alguém incorporar elementos cristãos ao seu culto wiccano, isso é um problema seu, não da pessoa.  Se você acha que alguém que invoca Exu para seu círculo mágico não é wiccano, ótimo, mas o círculo não é seu, então o problema também não é seu.

Orgulho e necessidade de aprovação são duas coisas que todos os bruxos precisam trabalhar.  Críticos precisam aprender a somente dar a sua opinião quando ela for solicitada.  Criticados precisam aprender que não é o fim do mundo ter pessoas discordando da sua prática, opiniões divergentes fazem parte da vida.  Se você alguma vez já entrou em uma discussão inflamada sobre assuntos do gênero (e isso me inclui), ou sobre a prática sacerdotal de outro bruxo que não tem nada a ver com você, há um longo caminho pela frente rumo à tolerância.  Sorte nossa que estamos na religião certa, só precisamos nos lembrar disso.

Bençãos
Dylan Siegel

Para ler mais, acesse: http://caminhosdassombras.org/