27 de fevereiro de 2009

ARCANO III - A IMPERATRIZ


A Imperatriz simboliza a vida plena, a preparação para os nascimentos físicos ou não. É por esse motivo que em muitos tarôs esse arcano é representado como uma mulher grávida sentada num trono, coroada e segurando um cetro, símbolos do comando, o comando dos mundos, pois ela é a Mãe do mundo.

Alguns autores sugerem que a denominação Imperatriz tenha sido uma modificação do original dessa carta. Uma pista de sua origem perdida talvez seja o Tarô Carey da Revolução francesa, datado de 1791, em que a Imperatriz e o Imperador carregavam a denominação de "A Grande Avó" e "O Grande Avô".

De toda forma, a Imperatriz é a representação da Mãe material, diferente da Sacerdotisa, que representa a mãe espiritual.

A Imperatriz nos traz a fertilidade, o amor, as mudanças advindas de um nascimento, que pode ser o nascimento de uma criança, de uma idéia, de um projeto, etc.

É o arcano 3 por que três é o número da multiplicação, do crescimento e da fertilidade.

Outra forma de enxergar esse arcano é como o encontro entre os opostos (por isso em uma jogada pode simbolizar um amor). Podemos dizer que é o encontro dos pólos masculino e feminino manifestados através da gestação. 1 (masculino)+2 (feminino)=3 (união). Nesse sentido temos a Grande Mãe, a Grande Deusa, geradora de tudo, cultuada há tanto tempo. Ela é para os Incas Pachamama (Pacha significa universo e mama mãe), para os egípcios ela é Mut, para os gregos é Deméter e para os hindus ela é a Deusa tríplice, as shaktis (elementos femininos de Deus).
É a representação da triplicidade da Deusa.

Ao estudar essa carta compreendemos porque algumas correntes admitem a preponderância do elemento feminino (a Deusa) ao elemento masculino (o Deus), pois ela é tríplice (jovem, mãe e velha) e contém em sua face Mãe o encontro com o Deus simbolizado pela gestação.

Ela é a geradora de tudo, a Deusa como origem de tudo o que existe, a mãe do mundo, a própria Terra.

Numa jogada ela traz a proteção, o casamento, o amor, o nascimento, a fertilidade.

Tal qual uma mulher grávida, ela nos traz a descoberta do corpo como um templo sagrado e valioso, e nos alerta para ter cuidado com as coisas do corpo, as coisas do mundo, as coisas materiais. Pode significar também que o consulente está descobrindo sua porção mulher, conscientizando-se de sua beleza - interior ou exterior - e preparando-se para projetar todo esse sentimento ao mundo através de seus atos.

Marca um período em que os sentimentos são infinitamente mais evidentes que os pensamentos.
Profissionalmente favorece ramos de alimentação, decoração, moda e artes.

A Imperatriz possui contornos diversos em alguns tarôs. Em alguns, como o de Marselha, ela exprime todo o seu poder de comando. Ela comanda o reino dos sentimentos, é esse o comando de que trata esse arcano.

No Old Path Tarot a Imperatriz é representada nutrindo seu filho. Nesse baralho ela não exprime sua autoridade com o cetro, a coroa e o escudo, como no de Marselha, mas nos ensina que a vida deve ser nutrida, alimentada e que, como dissemos, vida se alimenta de vida.

No tarô de Crowley duas luas simbolizam as faces da Deusa (e da mulher), é o desdobramento da mulher/deusa.

É um simbolismo interessante se pensarmos na relação da mulher com a lua. Ambas sempre estiveram relacionadas, o que se evidencia pela relação dos ciclos menstruais e as fases da lua. Por essa razão, pode significar problemas de saúde relacionados com a menstruação.

Ainda com relação à saúde, num aspecto de desequilíbrio, pode significar o aparecimento de doenças nos órgãos reprodutores, inclusive doenças venéreas.

Vale notar que A Imperatriz é vida, é plenitude é fertilidade pura. Porém, devemos lembrar que vida se alimenta de vida.

Qualquer que seja o aspecto de criação, é preciso que a vida termine e sua essência volte à origem para que uma nova semente possa germinar. Deméter não é apenas a mãe cuidadosa de Perséfone. Ela é também a mãe enlutada.
Essa é também a mensagem da Imperatriz para nós.

PALAVRAS-CHAVE: realização, fertilidade, maternidade, união, criação,feminilidade.

PERSONALIDADE: mulher que tem consciência de sua sexualidade ou uma mulher frívola; uma mãe bondosa ou uma mãe super protetora; a esposa, a mãe, a amante.
ASPECTOS POSITIVOS: casamento, união, amor, nascimento, mudanças, abundância, sentimentos, criação, riqueza, generosidade, prazer dos sentidos, dar e receber afeto, situação fecunda, inteligência criativa, boas relações, alegria, proximidade com jovens ou crianças, elaboração de projetos, etc.
ASPECTOS NEGATIVOS: luxúria, frivolidade, futilidade, super proteção, carência, esterilidade, ciúmes, perda de bens materiais, sedução vã, avareza, promiscuidade.

FIGURAS: The Heling Tarot e Universal Goddess Tarot

13 de fevereiro de 2009

Identidade: BRUXA

Alguns conceitos mudaram desde o meu primeiro contato com o mundo pagão.

De início, a maioria das pessoas se intitulava bruxa com muita naturalidade e até com certo orgulho. Para muitos era como se ser bruxa ou bruxo fosse mesmo um título.

Como bruxas, nos sentíamos diferentes, especiais, originais, dotadas de um conhecimento que nem todo mundo tinha.

Talvez esse quadro tenha se formado em razão da bibliografia à disposição. Os livros relacionados à Bruxaria tratavam de enaltecer o ser bruxa, filha da terra, mulheres que operavam sua alquimia na cozinha, entre os temperos e as panelas.

Todas as mulheres que, de alguma forma, se identificasse com as poéticas palavras dos livros passava a se autodenominar bruxa.
Depois de um tempo, houve quem levantasse a bandeira do não-bruxa dentro do próprio Paganismo. O argumento era que a palavra 'bruxa' fora usada como forma de estigmatizar pessoas, carregada, portanto, de uma conotação terrível e de baixa energia. Sendo assim, não seria o mais acertado usarmos a palavra 'bruxa'.

Nesse meio tempo, havia aqueles que defendiam que bruxa que é bruxa pratica Bruxaria. Trata-se, portanto, de uma religião. Dessa forma, impossível dizer que uma bruxa possa rezar o terço católico ou benzer usando preces cristãs ou de outra religião.

Pois bem, o tempo foi passando e nem precisou de muito tempo para que as pessoas acabassem, cada qual, seguindo seu rumo, umas desistiram de se autodenominar bruxas, outras acabaram por defender a Bruxaria como religião, outras 'esqueceram' a Bruxaria e passaram a se autodenominar 'caminhantes' ou, simplesmente, 'pessoas comuns'.

Então eu acabo, hoje, por me perguntar o que de fato é uma bruxa.

Pensei um pouco e cheguei a muitas conclusões, dentre as quais que, de certa forma, cada um desses pontos-de-vista tinham (ou têm) lá suas coerências.

Vamos falar do primeiro... AS BRUXAS QUE POETIZAM.

Nada mais poético e mágico que transformar a nossa casa, em especial a nossa cozinha, em um depósito de feitiços, encantamento e sonho.

Eu, muitas vezes, lendo alguns livros das bruxas que poetizam, me deliciei com a forma divertida, poética e mágica de descreverem o sentir bruxa, o viver bruxa. Me identifiquei muitas vezes, aprendi uma porção de coisas com aquelas palavras doces e cheirosas.

Para mim, as bruxas que poetizam têm a magia do viver a terra, possuem a graça e a força da Deusa, nos ensinam muito com esse lado poético, tratando a Bruxaria como ela deve ser tratada: como Arte.
Já AS BRUXAS QUE SE ESCONDEM... (eu acredito piamente que tem gente que esconde o jogo!) possuem características muito interessantes.

Já ouvi dizer, ou li em algum lugar, que bruxa que é bruxa não diz que é bruxa.

Essas pessoas que não querem o rótulo de bruxas, em minha opinião, não se curvam diante de rótulos, não procuram se dizer ?bruxas? para receber aplausos ou para ter um séquito. O que para mim tem tudo a ver com ser bruxa. Uma bruxa mesmo não precisa de rótulos, não precisa de seguidores.

A Bruxaria não prega o proselitismo.

O terceiro grupo, o das BRUXAS ATIVISTAS, talvez seja o mais forte dos três grupos.

Essas bruxas defendem sua Arte, exigem respeito, dão a cara à tapa, vão à luta pela sua Religião. Vivem, respiram Bruxaria e são ativas, reúnem pessoas para falar da Deusa e do Deus, esclarecem.

Existe muita confusão quando o assunto é Bruxaria...
As bruxas ativistas são, talvez, as que mais trabalhem em favor da Bruxaria, pois procuram desmistificar e tirar das sombras a Arte.

Vejo nos três grupos coerência e tenho minha opinião sobre se chamar ou não de bruxa. Mas procurei aqui levantar uns questionamentos acerca desse tema porque, de fato, creio que tudo o que nos separa é infinitamente menor daquilo que nos une. E isso quem disse foi Doreen Valiente.

Tenho amigos no grupo dos que poetizam, amigos no grupo dos que se escondem e amigos no grupo dos ativistas.
Cada qual com suas razões e seus argumentos para discordar ou concordar uns com os outros.

Mas, para mim, todos estão vivendo o Paganismo, ou Neopaganismo, cada um à sua maneira.

Ser bruxa, ser pagã, ser caminhante, ser uma pessoa comum... Cada um que assuma sua postura (ou não assuma), cada um que se denomine como quiser (ou não se denomine), mas que o façam em prol de algo maior, seja uma crença, uma ideologia, uma filosofia, uma religião, uma postura.

Meu desejo é que o Paganismo brasileiro seja mais unido em sua diversidade, que possamos conviver com o diferente, com aquele que pensa diferente.

Esse é, para mim, o mais importante e é o que nos identifica.

Eu opto por me identificar como BRUXA, mas dependendo da pessoa que pergunta eu me recolho porque não sou dada a ter gente pendurada pedindo feitiços ou iniciações. Portanto eu também opto por me esconder de vez em quando, apesar da minha identidade de bruxa.

E também gosto de poetizar e gosto do ativismo. De vez em quando eu desato a escrever (com certeza não tão bem como muitas bruxas que poetizam) e de vez em quando eu desato a defender a minha Religião, com questionamentos sempre, pensando e agindo.

Posso viver todo esse (falso) antagonismo?

Sou diferente de alguns... Mas será que somos assim tão diferentes?

Eu fico a me perguntar.

Beijos e Bênçãos,
Lua Serena

Figuras: desconheço os autores, se alguém souber me passe para eu colocar nos créditos. :)

7 de fevereiro de 2009

ARCANO I - O MAGO


O Mago, também chamado por alguns autores como O Saltimbanco ou O Mágico, representa o princípio, o início da concretização de uma vontade, a ação que leva a uma concretização. Somos nós agindo de acordo com a nossa vontade primeira. Essa é a idéia primeira do arcano um, o que explicaria, inclusive, O Mago ser o primeiro arcano.

O um simboliza tudo o que vem primeiro, a independência, a liderança, a iniciativa, o vanguardista, o pioneirismo em qualquer área da vida, a capacidade de pensar e realizar.

O Mago é O Louco maduro para alguns, aquele que já detém algum conhecimento, mas que não sabe de toda a sua potencialidade, aquele está no início de alguma etapa. É o aprendiz, o estudante, o candidato, o iniciante, o neófito com muito potencial que poderá tornar-se um dia O Hierofante, o mestre, o sacerdote, o superior hierárquico, o chefe, o conselheiro.

Num sentido mais espiritual, O Mago é aquele que possui aptidões para lidar com os elementos (ar, fogo, terra e água), é o bruxo no início de sua jornada.Nesse mesmo sentido, O Mago sabe criar através da manipulação dos elementos, mas não sabe por que faz isso e nem para que faz isso. Talvez falte no Mago um pouco de maturidade, compreensão e vivência para conhecer os mistérios espirituais.

No mundo dito profano, ou seja, no mundo material, podemos pensar no universitário recém formado (ou até aquele que ainda está se graduando) que é dedicado, que é estudioso, que conhece bem aquilo que seus professores lhe ensinaram, mas que ainda não possui vivência prática de seu ofício. É com certeza um profissional em potencial que poderá se tornar um grande líder, um grande mestre, mas ainda está no início de seu caminho. Talvez possa ser até um pouco arrogante... Mas isso é por que ele ainda está aprendendo.

No Tarô Mitológico, e também em outros baralhos, a figura mitológica atribuída a esse arcano é Hermes, Mercúrio, o mensageiro dos Deuses, o portador do Caduceu. Crowley chama O Mago de o portador do bastão, que é o símbolo do poder mágico. É com o bastão que o mago cria, dá forma no mundo material.

Para os autores do Tarô Mitológico, O Mago representa o mestre espiritual.

Para mim, mestre espiritual é O Hierofante.

O Mago seria, portanto, o aspirante, aquele que um dia poderá ser o mestre, O Hierofante.

No Mago temos a primeira iniciativa que nos levará ao Hierofante, buscamos no Mago a independência espiritual, nos tornando mestres de nós mesmos em muitos aspectos, ainda que ainda sejamos aprendizes de alguém.

Em boa parte dos tarôs, O Mago possui um chapéu em forma de oito deitado (lemniscata) que é o símbolo do infinito e do conhecimento esotérico.A mão esquerda do Mago está direcionada para o alto e a mão direito para o chão. Isso significa que O Mago conhece a máxima "em cima, como embaixo", de Hermes Trismegisto. Desta forma, O Mago conhece certas leis e faz uso delas para concretizar sua vontade.

A mão erguida segura o bastão, símbolo do poder ativo, do princípio masculino, o fogo.

Sobre a mesa podemos ver os símbolos dos outros três elementos dispostos.

A Taça, símbolo da água, princípio feminino, aquele que mantém a forma, o amor, a beleza; a espada, símbolo do ar, da mente, do astral, da transformação,da ousadia; o masculino; e a terra, símbolo da matéria, da posse, do feminino.

Há também uma tulipa aos pés do Mago (em outras representações verde, grama) que significa o início das atividade do Mago, a iniciação.

PALAVRAS-CHAVE: independência, iniciativa, pioneirismo, potenciais.VERBOS: iniciar, começar, agir, fazer.

SITUAÇÃO: o início de algo, o começo de uma empreitada.

PERSONALIDADE: um líder em formação, um jovem ou uma pessoa que inicia algo, um candidato, um pretendente, um aspirante, o ser humano que pode influenciar os acontecimentos naturais, alguém que poderá a ser uma pessoa importante na vida (ou na vida do consulente).

ASPECTOS POSITIVOS: início de alguma atividade, capacidade de organizar o início de algo, iniciativa, prontidão, força de decisão, vontade de criar/iniciar algo, vitalidade, eloqüência, comunicação, capacidade de aceitar riscos, inteligência, persuasão, habilidade, criatividade intelectual, capacidade analítica, capacidade de percepção.

ASPECTOS NEGATIVOS: arrogância, presunção, exibicionismo, mentira, falácia, roubo, engano,ambição desmedida, falta de escrúpulos, amotinação, atividades sem razão, falta de atenção, falta de paciência, empreendimentos infelizes, desentendimentos, isolamento.




Bênçãos,
Lua Serena
Figuras: The Yeager Tarot of Meditation e The Wirth Tarot