SOL E CARNE (Rimbaud)
Creio em ti! Creio em ti! Deusa, rainha amada,
Afrodite marinha! - amarga é a estrada,
Desde que nos pregou um Deus à sua cruz;
Só em ti creio, Carne e Mármore e Flor, Vênus!
É triste, feio e triste, o Homem sob o céu vasto,
Sempre vestido está, porque não é mais casto,
Porque seu próprio busto altivo maculou,
E, qual ídolo ao fogo, então estiolou,
Nas sujas servidões, corpo Olímpico e forte!
No pálido esqueleto, até depois da morte,
Quer viver, insultando a maioral beleza!
- E no ídolo puseste a divinal pureza,
Nesta, Mulher, de nossa argila originada,
Para a pobre alma do Homem brilhar, foi gerada,
Para enfim ascender, dos grilhões deste mundo,
À beleza do dia, em amor tão profundo,
E sequer sabe ser Cortesã a Mulher!
- É uma grande farsa! E o mundo a escarnecer
Em nome da sagrada e doce mestra Vênus!
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