15 de dezembro de 2008

ARCANO XVI - A TORRE


Esse arcano talvez seja o que mais variedade de denominações possua. É mais conhecido como A Torre, porém também, pode ser encontrado como A Casa de Deus, A Destruição, O Raio, A Casa do Fogo, A Fragilidade, A Guerra.


Seu número é 16 e, segundo alguns autores, 4x4 significa o extremo da matéria, a matéria que atinge tamanha concentração e acaba por se desintegrar.

Na sua representação gráfica uma torre é fulminada por um raio – ou pelo fogo, em outras representações. É possível ver duas pessoas caindo no chão.

A Torre é o arcano da destruição, da mutabilidade, da transformação dolorosa. O raio ou a labareda que vem do céu representa a força que está além da nossa, a força dos Deuses, a força da qual não podemos escapar ou a qual não podemos enganar. A Torre é o símbolo da perda total. Ao fim do processo que A Torre encerra, teremos de construir novamente, tijolo a tijolo nosso lar, nossa vida, nosso amor, nosso trabalho, nossas amizades.

A destruição que a Torre traz é de tudo aquilo que construímos e que acabou nos aprisionando, ainda que neguemos isso, ainda que não notemos.

Esse arcano simboliza a destruição das formas, dos conceitos, de tudo aquilo que foi por nós construído, tijolo a tijolo, com dedicação e amor. Pode parecer um arcano nefasto numa primeira análise, pois tira de nossas mãos o que amamos, nos derruba dos postos que alcançamos com tanto empenho, destrói relações que construímos e mantivemos de forma profunda. O raio que atinge a Torre nos tira o chão, ou melhor, nos lança ao chão sem aviso. É doloroso, é por vezes traumático, mas é preciso que compreendamos que o raio destrói padrões que devem ser mudados. Muitas vezes construímos uma Torre linda, que nos protege das dores do mundo, é nosso lar, nosso refúgio. Sentir esse refúgio ser destruído por um raio é doloroso demais, deixa marcas, nos faz chorar, nos faz sangrar.

No entanto, a destruição da Torre é necessária.

Quando transformamos nossa Torre numa prisão, ela precisa ser destruída. Pode ser que nem notemos que transformamos nossa Torre numa prisão, pode ser que continuemos dizendo para nós mesmos que aquele é nosso lar, aquela é nossa vida, aquela Torre é nosso trabalho, é nosso amor, aquela Torre é nós mesmos...

A Torre destrói a vida organizada, a rotina, aniquila prisões externas (modo de vida, pessoas, trabalho) e internas (identidade, o eu). É o implacável fim doloroso, a destruição do véu de Maya (ilusão), a explosiva desintegração.

Se conseguirmos passar pela Torre e deixar aniquilar tudo aquilo que é necessário, passaremos para um estágio bem mais sereno. Lembre-se que as pessoas, na representação gráfica da carta, caem no chão, na Terra, na Mãe Terra... São sementes lançadas.

O raio que destrói a Torre nos abala, abala todas as nossas estruturas, nossa fé, nosso eu. Simboliza um poder acima do nosso, note que o raio, ou fogo, vem do céu, a morada dos Deuses.

É um arcano de vivência complicada e delicada, pede muita clareza e compreensão para passar pela situação que A Torre implica, para que não nos percamos durante a lição desse arcano.

PALAVRAS-CHAVE: destruição, evolução, dinamismo, mudança, transformação.

SITUAÇÃO: mudança inevitável e acima de nossa vontade. Destruição material ou não de uma situação que existia há bastante tempo.

PERSONALIDADE: pessoa transformadora, que traz mudanças ou que traz perdas.

ASPECTOS POSITIVOS: mudança, liberação, liberdade, tomada de consciência, destruição ou rompimento com padrões limitadores.

ASPECTOS NEGATIVOS: crise, destruição, perdas, quebras, ruína, desestabilização por erros próprios, decepção, fim doloroso de algo bom.


QUESTIONAMENTOS IMPORTANTES ACERCA DO ARCANO 16

Eu já passei por algum processo que lembre A Torre? Como foi? O que aprendi?
Tenho em minha vida alguma Torre, que eu pensei ser um refúgio, uma proteção e acabou por se revelar uma prisão?

Em relacionamentos eu já estive presa numa torre?

Costumo deixar morrer aquilo que precisa morrer em minha vida, mesmo que esse processo seja doloroso e brusco?

Quantas vezes eu caí na vida e o que aprendi com tudo isso?

Eu me deixo aprisionar facilmente?

Eu consigo distinguir proteção, cuidado e segurança de prisões?

5 de dezembro de 2008

As Três Faces de Afrodite


Afrodite talvez seja a Deusa grega mais conhecida pelas massas. Mas será que de fato a conhecemos?

Tentei reunir aqui um pouco do trabalho de pesquisa que fiz em busca das origens do culto e facetas de Afrodite, mas a medida em que minha pesquisa avançada, eu percebia que nenhuma pesquisa, por completa que seja, conseguiria tocar a verdade sobre a conhecida Deusa do Amor.

Há quem considere Afrodite uma variação da Deusa sumeriana do amor e da guerra, Inanna, e isso explicaria o nascimento de Afrodite ter sido no mar, pois somente por essa via o culto à Deusa do amor chegaria do oriente ao ocidente. Talvez seja por esse motivo que Afrodite é também considerada protetora dos viajantes.

De fato, estudando ambas, pude notar muitos pontos em comum. No entanto, a idéia central desse trabalho não é traçar uma comparação entre as duas Deusas, mas compartilhar minhas pesquisas focadas em Afrodite.

Começando pelo seu nascimento, encontrei três versões diferentes.

A primeira versão é segundo Hesíodo – poeta grego da idade arcaica, que escreveu “A gênese dos deuses” e “Os trabalhos e os dias” – para quem Afrodite teria nascido do falo de Urano, extirpado por seu filho Cronos.

Cronos, o filho mais novo de Gaia ou Geia e Urano (Terra e Céu), cortou os genitais do pai porque ele aprisionara seus irmãos nos confins da Terra, no Tártaro.

O falo de Urano foi jogado no mar e das espumas desse nasceu Afrodite. Essa versão explica a origem do nome de Afrodite, “nascida da espuma”.

Logo após seu nascimento, a Deusa nadou até chegar na ilha de Citera. Por isso também é conhecida pelo nome de Citeréia. Segundo a lenda, por onde Afrodite passava, a relva se renovava, as flores nasciam, ela trazia o amor maior, o amor que tudo fertiliza, que embeleza.

Vale, portanto, a associação da Deusa do amor com a primavera, pois está intimamente ligada à vida que se renova, às flores, aos nascimentos. Para corroborar essa associação, encontramos uma outra denominação para a Deusa, Antheia, a Deusa das Flores.

Depois de Citera, Afrodite foi para Chipre, onde foi recebida pelas Horas, guardiãs da porta do céu (o Olimpo) e filhas de Têmis, Deusa da Justiça. Nessa ocasião, Afrodite foi vestida por elas e, em seguida, levada à presença dos Deuses. Encantou a todos, claro!

É dessa versão do nascimento de Afrodite que nasce a chamada Afrodite Urânia, doadora do amor universal, da qual falaremos mais além.

A segunda versão de seu nascimento é encontrada, entre outras fontes, em Homero, poeta grego que viveu por volta de 850 a.C em Jônia, antigo distrito grego onde hoje situa-se a Turquia.

Homero escreveu Ilíada e Odisséia, porém, há sérias controvérsias históricas em razão da diferença de estilo entre as duas obras. A controvérsia é tanta que há quem ponha em dúvida, inclusive, a existência de Homero. Dessa discussão nasceu a expressão “questão homérica” a qual se diz quando estamos diante de um impasse.

Pois bem, segundo essa segunda versão do nascimento de Afrodite, descrita também por Homero, a Deusa teria nascido de Zeus e Dione. Porém, me parece que nessa versão encontramos uma forma de restringir a amplitude e força da Deusa.

Entre as discrepâncias encontradas nessa versão, a que mais me chamou a atenção foi o fato de Afrodite ser também conhecida pelo nome de Dione, que é a forma feminina de Zeus, conhecida como Deusa das águas, das fontes, do carvalho e dos oráculos, sendo essa última característica de Afrodite, pouco mencionada.

A terceira versão do nascimento de Afrodite é pouco conhecida. O que sabemos é que Afrodite teria nascido de um caramujo e desembarcado de uma concha na ilha de Citera.

Em Cnido – costa da Ásia maior – o caramujo é considerado uma criatura sagrada da Deusa.

Outra ligação de Afrodite com o caramujo está na lenda de que Afrodite, antes do Olimpo, viveu no mar, na companhia de um caramujo de extrema beleza chamado Nérites, filho de Nereu, uma das facetas da triplicidade da divindade do mar conhecida como “O Velho do Mar”.
Pouco se sabe dessa terceira versão do nascimento da Deusa, mas é inegável a relação de Afrodite com o caramujo.

Essas três versões da origem de Afrodite nos falam de seu nascimento na água. Afrodite nasce na água, ou da água do mar, o por nós conhecido útero primordial. Nós, seres humanos, também nascemos na água. Talvez nosso passado intra-uterino faça com que tenhamos tanto amor por essa Deusa maravilhosa, e talvez seja também esse nosso passado intra-uterino que nos dê a sensação de retorno às nossas origens quando mergulhamos no mar.

Outro ponto interessante sobre a força de Afrodite é que Ela é o amor que tudo gera.

Nós também somos, ou temos, esse amor que nasceu nas águas. A água é símbolo do nosso inconsciente, do nosso lado feminino, da fertilidade, da emoção.

O oceano primordial de onde crêem alguns termos nos originado me lembra muito o nascimento de Afrodite e sua relação com a humanidade.

Quem sabe Afrodite não seja a expressão humana dessa vida, pois tudo que ela toca se torna fértil, pulsante e vivo. Quem sabe Afrodite não seja essa própria força geradora da vida.
Afrodite e a humanidade, que realção impressionante. Mesmo entre os que dizem não cultuar a Deusa, nutre por Ela uma estranha ligação.

Como Deusa do Amor Maior, da beleza e da vida Afrodite também pode ser cruel, destruidora, como veremos. Nesse ponto reside a estreita conexão de Afrodite com a humanidade. Temos em nós esses dois pólos, essas duas versões de nós mesmos.

A bem da verdade, não seria correto dizer “dois pólos de Afrodite”. Poucos conhecem a versão tríplice da Deusa do Amor. Porém, noto que, cada vez que pesquiso sobre aspectos de determinada divindade, sempre encontro essa característica tríplice que, pasmem, também não pára no número três. Mas isso é assunto para outro texto.

Hoje o que conhecemos de Afrodite é reduzido ao quesito amor. Porém, Afrodite se mostra muito além do que se é possível escrever sobre a Deusa.

Afrodite não é somente a Deusa do amor e da beleza. A primeira face de Afrodite, em sua triplicidade, é Afrodite Urânia, distribuidora do amor universal, a doce, a bela, aquela que une os pares com amor, que dá cor e beleza ao mundo. É a Deusa do céu, das estrelas, do amor celestial. Sempre que penso nesse aspecto de Afrodite, me lembro da já mencionada Inanna, a Deusa dos Céus, como provedora, amorosa.
A segunda face é Afrodite Pandemos, que está intimamente ligada a questões carnais, sexuais, físicas, materiais. O amor sensual é domínio dessa faceta da Deusa, é Ela quem nos oferece os prazeres do corpo, que desperta o desejo, que nos faz querer a beleza para conquistar.

O terceiro aspecto é o menos conhecido, Afrodite Apostrófia, que significa “aquela que se afasta”. Esse é o aspecto destruidor da Deusa, o aspecto mais difícil e menos explorado.
É como se quisessem deixar à mostra somente o lado que convém. Vemos muito disso ao estudar essa Deusa.

Afrodite Apostrófia é que deturpa, a que escraviza e a que traz a mazelas, as desgraças. Penso muito nas modelos anoréxicas e bulímicas quando ouço o nome Afrodite Apostrófia.
Como dissemos, em verdade, não se trata de apenas três faces. O culto de Afrodite e suas faces vão variando conforme a época, o local e a ideologia do povo.

Temos, por exemplo, Afrodite Eleêmon, cultuada em Chipre como “A Misericordiosa”, cuja imagem se assemelha muito com a da Virgem Maria, porém, sem o aspecto da castidade.
Afrodite Pasifessa, “A que brilha longe”, conhecida como a Deusa lunar que rege os mistérios do inconsciente.

Afrodite Zeríntia, que muito se assemelha a Hécate. Afrodite Zeríntia é uma face da Deusa que está além do Olimpo, cujos domínios são além da Terra e do céu, assim como Hécate.
Para os atenienses, Afrodite Zeríntia era a mais velha das moiras.

Outro ponto em comum com Hécate era o sacrifício de cachorros, feitos em honra à Afrodite na costa trácia, posto que esse animal era consagrado à Afrodite Zeríntia.

Afrodite Genetílis, outra faceta da Deusa, também recebia sacrifícios. Ficou conhecida como Vênus Genetrix, pelos latinos, a Deusa dos partos.

Temos também conhecimento de um outro aspecto da Deusa, Afrodite Hetaira, que era venerada pelas cortesãs.

Diferentes das prostitutas pobres e não cidadãs, as hetairas eram treinadas desde cedo nas artes do sexo.

Aquele que comprava uma hetaira pagava uma soma muito alta. Tratava-se de um investimento. Muitos pagavam fortunas pelos favores sexuais das hetairas, e investiam também nos dotes artísticos delas.

É fato histórico que algumas hetairas acabaram comprando sua liberdade, tornando-se grandes e conhecidas mulheres.

Em Esparta, Afrodite era adorada como Enóplio, portando armas, e Afrodite Morfo, a acorrentada. Era chamada de “a de corpo bem feito” ou “a de várias formas”.

Afrodite Ambológera era adorada também em Esparta como aquela que adia a velhice, trazendo vigor físico.

Temos também a Afrodite Negra, ou Melena/ Melênis, dominadora dos mistérios da morte e destruição, aspecto relacionado com as Erínias.

Aliás, os aspectos negros de Afrodite são os que menos conhecemos. Podemos citar Afrodite Andrófono, a matadora de homens; Afrodite Anósia, a que peca, e Afrodite Tamborico, a cavadora de túmulos.

Existe também a ligação de Afrodite com Perséfone. Afrodite Persefessa era invocada como Rainha do submundo.

Interessante notar que Eurínome, a Deusa primordial dos pelasgos, também tinha relação com o mar, era a Deusa dos prazeres, governou antes do patriarcado olimpiano e foi rebaixada, deixada de lado.

Como podemos ver, Afrodite é muito mais complexa do que lemos por aí. Não daria para explanar toda a complexidade da Deusa nesse trabalho.

Afrodite não se resume ao amor físico, nem ao amor universal, nem ao sexo, nem à beleza. Ela rege tudo isso e muito mais. Afrodite é o amor entre seres e intra seres, é o amor que cria, mas é também o amor que ceifa.

Afrodite está presente no sexo, no prazer, Ela é o desejo, a vontade entre dois seres. É Ela quem faz com que duas pessoas se desejem e desse desejo mútuo, dessa explosão de energia entre dois corpos, duas mentes e dois espíritos possa ser criado um outro ser, pois Afrodite é doadora da vida também.
Afrodite é a própria beleza da Terra, não diz respeito somente a corpos jovens e esbeltos. Para Afrodite a beleza plástica não vale nada. Afrodite quer a beleza da mente, do corpo e do espírito.
De nada adiantará explorarmos as novidades cosméticas se não explorarmos nossa beleza real, aquela que é dada por Afrodite a todos, sem exceção.

Afrodite abençoou a todos com a beleza, é uma sabedoria que poucos compreendem.

Creio que Afrodite perguntaria às pessoas:

De que adianta a sua beleza, sua perfeição se você vive destrói o seu planeta?


De que adianta a forma física perfeita se é vazio por dentro?

Como pode você desejar a beleza constantemente na sua vida e degradar a sua casa?

Afrodite é doadora da beleza, do viço, porém, Afrodite também deseja que cada um de nós leve a beleza para a vida daqueles que nos cercam.

O que acontece com pessoas bonitas, jovens, que exercem sua sexualidade desmedida?

O que acontece com pessoas que em nome do amor aprisionam outro ser?

O que acontecem com pessoas que buscam a beleza vazia?

Solidão.

Solidão no sentido mais amplo.

Afrodite vai embora e leva consigo a real beleza, o sexo pleno, o amor verdadeiro.

É nessa hora que podemos conhecer a face da qual poucos falam, Afrodite Apostrófia, aquela que se afasta.
Figura: www.dailypainters.com

2 de dezembro de 2008