PAGANISMO
O termo "pagão" vem originalmente do latim "paganus", que parece originalmente ter tido significados tais como "aldeão", "habitante dos campos" ou "caipira". O exército romano usavam este termo para se referir aos civis. Os primeiros cristãos romanos usaram "pagão" para se referir a qualquer um que preferisse cultuar divindades pré-cristãs, as quais os cristãos decidirem que era todos "realmente" demônios disfarçados, baseados no hábito que as famílias rurais tinham de se apegar às suas antigas fés mais do que as famílias urbanas, assim como porque os politeístas se recusavam a fazer parte do "Exército de Deus." Conforme os séculos se passaram, "pagão" tornou-se simplesmente um insulto, aplicado aos seguidores monoteístas do Islã pelos cristãos (e vice-versa), e pelos protestantes e católicos a qualquer coisa que gradualmente ganhasse a conotação de "uma falsa religião e seu seguidores." No começo do século vinte, o principal sentido desta palavra tornou-se uma mistura de "ateu", "agnóstico", "hedonista", "pessoa sem religião" etc (quando se referindo a uma pessoa educada, branca, do sexo masculino, heterossexual e não-européia) e "selvagem ignorante e/ou pervertido" (quando se referindo a todo o resto do mundo).
Hoje há muita gente que chamam a si mesmas orgulhosamente de "pagãos" e usam a palavra de forma diferente da maioria dos ocidentais. Para muitos de nós, "Paganismo" é um termo universal para religiões politeístas, antigas ou novas, com "pagão" sendo usado como um adjetivo, bem como um termo usado para quem passa a praticar uma religião desse tipo. A maioria esmagadora de todos os seres humanos que já viveram foram ou são pagãos e nós acreditamos que há um enorme valor de insights espirituais e força a serem ganhados ao se seguir um caminho pagão. Há três pontos importantes a serem notados aqui, entretanto:
Como os membros de qualquer outra comunidade religiosa, nós, pagãos, temos o direito de definir a nós mesmos e de exigir que as nossas definições, mais do que aquelas (ou as complementando) inventadas por indivíduos ou instituições hostis a nós, sejam mencionadas ou referidas quando são discutidas pela comunicação de massas.
Assim como os nomes de qualquer outra religião, "Paganismo" merecem uma letra maiúscula, como acontece com Budismo, Cristianismo, Protestantismo ou Bahai.
Como outros termos universais usados para as religiões, Pagão/Paganismo requerem prefixos ou adjetivos com o objetivo de exemplificar abordagens específicas, denominações ou sectos. Os termos abaixo são os que foram estabelecidos nos últimos trinta e cinco anos:
"Paleopaganismo" ou Paleo-Paganismo" é um termo universal para as fés originalmente politeístas, centradas na natureza dos povos tribais da Europa, África, Ásia, América, Oceania e Austrália, quando elas eram (e em alguns casos, ainda são) praticadas como sistemas de crença intactos. As ditas "Grandes Religiões do Mundo", Hinduísmo (anterior ao influxo do Islã na Índia), Taoísmo e Shintoísmo, por exemplo, caem dentro desta categoria, ainda que muitos membros destas fés relutem em usar o termo. Alguns sistemas de crenças paleopagãos são racistas, sexistas, homofóbicos etc. Há bilhões de paleopagãos vivendo e cultuando os seus deuses atualmente.
"Mesopaganism" ou Meso-Paganismo é um termo universal para uma variedade de movimentos, tanto organizados quanto não-organizados, que começaram como tentativas de recriar, reviver ou continuar o que seus fundadores achavam que eram os melhores aspectos dos caminhos paleopagãos dos seus ancestrais (ou predecessores), mas que foram altamente influenciados (acidentalmente, deliberadamente e/ou involuntariamente) por conceitos e práticas provindas das visões de mundo monoteístas, dualísticas ou ateístas do Zoroastrismo, Judaísmo, Cristianismo, Islamismo e do Budismo mais recente. Exemplos de sistemas de crenças mesopagãos incluem a Maçonaria-livre, o Rosacrucianismo, a Teosofia, o Espiritualismo etc, assim como aquelas formas de Druidismo influenciadas por esses movimentos, as muitas fés africanas sobreviventes nas Américas (tais como o Vodu, a Santeria, o Candomblé etc), Sikhismo, muitos sectos do Hinduísmo que foram influenciados pelo Islamismo e Cristianismo, Budismo Mahayana, a religião/filosofia de Aleister Crowley, chamada Thelema, Odinismo (Paganismo Nórdico), muitas "Tradições Familiares" de Bruxaria (aquelas que não são completamente falsas) e grande parte da Wicca ortodoxa (isto é, a Wicca Tradicionalista Britânica).
Também incluídos como Mesopagãos poderiam estar os assim chamados "Pagãos-Cristãos", aqueles que chamam a si mesmos de "Pagãos monoteístas", e talvez aqueles satanistas que cultuam o deus egípcio Set, se realmente há algum deles. Os satanistas que insistem que eles não cultuam nada além deles mesmos, mas que gostam de usar o nome Satã por causa do seu significado "amedrontador" são simplesmente cristãos heréticos, assim como os Humanistas Seculares e outros ateus ocidentais, pois o Deus e o Demônio no qual eles não acreditam são aqueles definidos pela doutrina cristã. Alguns sistemas de crenças mesopagãos são racistas, sexistas, homofóbicos etc. Existem pelo menos um bilhão de mesopagãos vivendo e cultuando as suas deidades hoje.
Neopaganismo ou Neo-Paganismo é um termo geral para uma variedade de movimentos, tanto os organizados quanto os não-organizados (a maioria), que surgiram a partir por volta de 1960 A.D (apesar de que eles tiveram fontes literárias provindas desde meados do século 19), e que são tentativas de recriar, reviver e continuar o que os seus fundadores acharam que eram os melhores aspectos dos caminhos paleopagãos dos seus ancestrais (ou predecessores), combinado com ideais humanistas e pluralistas modernos, ao mesmo tempo que esforçando-se conscientemente para eliminar tanto quanto possível o monoteísmo, dualismo e puritanismo tradicionais do Ocidente. A essência das crenças neopagãs incluem uma multiplicidade de deidades de todos os gêneros sexuais, uma percepção destas deidades como sendo tanto imanente quanto transcendente, um compromisso com as causas ecológicas e uma disposição para executar rituais mágicos, assim como espirituais, para ajudar a si mesmos e aos seus semelhantes. Exemplos de Neopaganismo incluiriam a Igreja de Todos os Mundos, a maior parte das tradições wiccanas heterodoxas, o Druidismo conforme praticado pela Ár nDraíocht Féin e pela Henge of Keltria, algumas ramificações do Paganismo Nórdico e algumas formas modernas do Budismo, cujos membros referem a si mesmos como "Buddheo-Pagans." Os sistemas de crença neopagãos não são racistas, sexistas, homofóbicas etc. Há centenas de milhares de neopagãos vivendo e cultuando as suas deidades atualmente. O termo "Neopaganismo" foi popularizada nos anos 60 e 70 por Oberon Zell, um dos fundadores da Igreja de Todos os Mundos.
O termo "Neopaganismo" não tem nada a ver com o uso recente pela Igreja Católica para designar o Mesopaganismo Germânico de Hitler, que incorporava anti-semitismo e dualismo cristão do século dezenove. Hitler, apesar de tudo, considerava a si mesmo um bom cristão e era considerado como tal por muitos, se não pela maioria, dos cristãos germânicos daquele tempo. A Igreja Católica está simplesmente tentando distrair atenção da sua responsabilidade de ter criado um ambiente cultural no Ocidente que desumanizava os judeus e do seu passado patético em se opor ao Holocausto enquanto ele estava acontecendo (sem mencionar o valor para a Igreja em caluniar novas religiões, associando-as com os nazistas).
Estes três termos não delineiam categorias bem definidas. Historicamente, freqüentemente há um período, décadas ou séculos, em que o Paleopaganismo se mistura ao Mesopaganismo, ou o Mesopaganismo se mistura ao Neopaganismo. Além disso, os fundadores e membros de grupos mesopagãos e neopagãos freqüentemente preferem acreditar (ou pelo menos o declaram) que eles genuinamente paleopagãos em crenças e práticas. Este "mito da continuidade" é vantajoso para os costumes da maioria dos criadores e membros de novas religiões por toda a existência humana e não deveria ser levados muito à sério.
Quando fizer uma pesquisa na net, você deveria estar alerta de que algumas pessoas colocam e outras não colocam hífen nestes termos, especialmente "Neo-Paganismo" e de que muitos neopagãos ignoram o "Neo-" totalmente (especialmente no dia-a-dia) e que muitas pessoas alheias a esse movimento recusam-se a escrever os nomes das nossas religiões com letra maiúscula. Para aumentar a confusão, muitos mesopagãos e paleopagãos se recusam a usar o termo "pagão" para designar a si mesmos, tendo aceitado as definições correntes do Cristianismo. Um sinal de progresso, entretanto, ocorreu quando os editores do Hinduism Today – um jornal mensal fabuloso publicado em doze línguas no mundo inteiro – publicou um editorial alguns anos atrás no qual eles aceitamente orgulhosamente o termo "pagão" em nome do um bilhão de hindus do mundo!
Obviamente, o uso desse vocabulário está atualmente fora de controle e você pode precisar tentar usar várias formas de escrevê-los para achar o que você está procurando.
Parte desse material foi tirado do meu Pagan Glossary of Terms¸ em algum outro lugar do meu website. Eu irei algum dia ter uma página aqui que liste as definições de Paganismo e Neopaganismo escritas por outros autores e grupos.
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Tradução: Copyright © 2001 c.e Quíron.
Fonte: www.neopagan.net
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