Em diversas culturas, os chifres aparecem em referência a deidades poderosas, na maioria das vezes, deidades masculinas, mas também femininas. Os chifres, embora deturpados com o passar do tempo, sempre foram símbolos de poder.
Guerreiros de inúmeras culturas usavam chifres como símbolo de sua força e poder, dentre eles os celtas, os vikings e os gregos. Até mesmo nas histórias cristãs... Para representar isso, Michelangelo esculpiu a estátua de Moisés com chifres. Entre os africanos e os pajés indígenas também encontramos os chifres como emblema de poder.
No Egito, em Karnak, em honra ao Deus Amon-Rá, o deus de chifres de carneiro. Nessa mesma cultura temos vários deuses e deusas representados com chifres. Entre os minoicos e suas inúmeras representações de chifres taurinos. Entre os celtas, temos as representações de Cernunnos e, posteriormente, Herne, o caçador. Na Grécia, temos Dionísio e Pã, deuses de chifres ligados à vida e ao êxtase. Na Babilônia temos a imagem de Enkidu, bastante parecida com a imagem posterior do diabo cristão. Temos também o epíteto de Shiva, o senhor dos gados, como Pashupati.
Podemos observar que embora muitos de nós cultuemos deidades europeias, os chifres não são exclusividade dessa região.
Poderíamos ficar aqui elencando as inúmeras representações dessa força selvagem, potente e profundamente ligada à humanidade. Ligação que, aliás, permanece até hoje numa versão demonizada... trazendo a relação do poder do chifre e também do medo. Essa ideia persiste na figura do diabo cristão, que atormenta e traz o mal àqueles que não seguem os preceitos do deus cristão.
Nem mesmo a jocosa relação dos chifres com a infidelidade tirou da cabeça da humanidade (olha o trocadilho) o medo dos chifres... Dizem que onde há medo, há poder... Bom, em se tratando de chifres isso é bem verdade.
Há outras referências aos chifres... A cornucópia da abundância nada mais é que... chifre. Entre os tropeiros, o chifre se tornou instrumento de agrupamento de animais, de chamada... o berrante. Muitas são as histórias de feitiçaria pesada feita para os inimigos usando chifres de bode. Aliás... o próprio sacrifício de bodes é, na verdade, uma reminiscência de antigas práticas.
Enfim, o chifre é bastante poderoso. E não é à toa que muitos de nós, bruxos e bruxas, chamamos o a figura masculina da divindade de chifrudo, cornífero, deus de chifres...
Muitos, mas não todos.
Não podemos negar que o ressurgimento da Bruxaria trouxe à luz antigos cultos e histórias de deuses de chifres. Mesmo que muitos assim não queiram admitir a Wicca foi a porta para que muitos de nós soubéssemos da existência de um deus de chifres. Nessa vertente de Bruxaria, tem-se a ideia de que o consorte e filho da Deusa Mãe é o Deus de Chifres, trazendo para a modernidade antigos deuses de antigos povos e crenças.
Significa dizer que “Cornífero” é uma denominação moderna para as diversas formas masculinas da divindade. A essência comum de todas essas mitologias é a profunda ligação de todos os deuses chifrudos com a natureza. Num primeiro momento, a natureza selvagem, intocada, fértil e poderosa. Num momento posterior, já com o descobrimento da agricultura, muitas figuras dos deuses chifrudos foram associados às culturas agrícolas, como o deus das colheitas, que se oferece em sacrifício para que a humanidade possa sobreviver.
Mas assim como muito na Arte, há também diversidade no culto aos Deuses. Nem todo bruxo ou bruxa necessariamente é um cultuador de um Deus necessariamente chifrudo. Porém, as figuras masculinas de deuses, com chifres ou não, com as quais as bruxas e bruxos se ligam bastante, possuem uma essência muito marcante que é um misto de potência, poder, de fertilidade, fertilização, sexo, matéria... E quando pensamos nisso tudo, voltamos... aos chifres.
Seja como for, é bastante difícil traçar uma linhagem histórica dessa figura chifruda atual, o Cornífero, pois embora ela hoje se apresente como tal, seu surgimento se dá em culturas diversas, épocas diversas, sob nomes diversos...
O ideal é que se eleja uma divindade masculina chifruda e se discorra sobre ela. Do contrário, eu ficaria aqui por anos e anos escrevendo sobre as tantas figuras de homens/deuses de chifres. E se mesclarmos isso às figuras femininas de chifres então... é um trabalho para anos de pesquisa. Não que não seja legal, é muito... mas, no momento, não tenho como fazer isso.
Assim, deixarei para que cada um escolha sua divindade chifruda preferida e discorra sobre ela em nossos estudos no Grupo de estudos do Caldeirão de Circe.
Acho que será muito enriquecedor para todos.
Beijos,
Lua Serena