Esse arcano é também conhecido pelo nome de O Ajustamento, pois muito mais que justiça – que é um conceito deveras humano e relativo – o arcano 8 simboliza os ajustes da vida, que muitas vezes podem ser bem distantes da justiça compreendida pelos homens.
A justiça é em si um conceito complexo que depende de muitos fatores, tais como cultura, momento histórico, enfim, não é dessa justiça que trata o arcano 8.
A Justiça do Tarô está relacionada com as forças que equilibram a vida, forças essas que, novamente vale dizer, podem não ser justas na concepção humana do termo.
Nas palavras de Crowley, “apesar de ser exata, a Natureza não é justa sob nenhum ponto de vista teológico ou ético”.
Esse arcano nos fala da causa e efeito de nossos atos, o recebimento do troco por nossas ações como forma de equilíbrio natural das coisas.
É a carta da lógica, da sequência de atos, da razão muitas vezes incompreensível ao ser humano. Isso por que essa carta nos mostra o sistema organizado da teia cósmica, a ordem do universo, a lógica obscura de dar aquilo que se recebe.
Em outras palavras, embora possamos prever os movimentos dessa carta, não podemos prever ou compreender sua lógica, como a própria vida: tudo aquilo que transmitimos a nós retorna, mas não necessariamente nos exatos moldes que transmitimos. A causa pode gerar diferentes efeitos, mas sempre gerará efeitos invariavelmente. É como dizem, se pegarmos o cabo de uma panela quente, vamos nos queimar, por melhores que sejam as nossas intenções ao pegar a panela.
A lógica e a razão inerentes a esse arcano não devem ser interpretadas como frieza ou indiferença. A própria imparcialidade simbolizada nessa carta não significa indiferença. Talvez a imagem de uma mulher nas representações gráficas queira nos dizer exatamente que a razão/lógica/imparcialidade não devem ser vistas como frieza.
A incompreensão dessa idéia também se pode ver exprimida nas Deusas que encontramos representadas nesse arcano: Atena e Ma’at.
Vistas muitas vezes erroneamente como Deusas frias, tanto Atena como Ma’at são Deusas da sabedoria, da estratégia, da lógica das coisas.
Atena nos ensina a vencer a guerra através da mente, da sabedoria, do conhecimento das leis cósmicas. Ma’at, Aquela que é a Verdade, coloca em sua balança uma pena de coruja em um prato e o coração humano no outro. É preciso que o coração seja tão ou mais leve que a pena para que suas bênçãos nos alcancem.
Por vezes implacáveis, essas Deusas nos mostram a verdade por detrás de nossas ações. O resultado daquilo que plantamos explicita a relativa impotência de nossa vontade perante as leis cósmicas.
É o arcano que nos ensina a não culpar o outro por nossas mazelas, nem de julgá-los por suas imperfeições.
Em alguns tarôs poderemos encontrar a numeração desse arcano invertida com a carta da Força. Cada estudioso encontra razões que justificam essa e outras alterações. No entanto, entendo por certo manter a sequência tradicional que atribui a esse arcano o número oito. Até mesmo por que o oito é o número da justiça.
Numa jogada pode simbolizar o recebimento por nossas ações ou reflexões sobre nossas vidas, uma revisão de nossos atos por meio da análise dos resultados. Ou ainda um momento em que se necessita de ajuste, de equilíbrio. Talvez a vinda do equilíbrio não signifique tranqüilidade, é o que esse arcano nos vem mostrar. Ajustar a vida de vez em quando se revela extremamente doloroso, bagunçado, rígido e pouco justo para os corações humanos que compreendem a justiça como sendo a SUA justiça, aquilo que lhe beneficia. A justiça, no tarô, não é isso. De outro turno, a lei do retorno expressa nesse arcano não significa punição, mas resultado. E, venhamos e convenhamos, nós seres humanos, somos da lei... da lei do menor esforço conjugada com a teimosia. Resultado: aprendemos da maneira mais difícil muitas vezes. Talvez as maiores de nossas lições de vida sejam aprendidas mediante a dor, a dificuldade de passarmos pelos ajustamentos da vida.
Lições importantes começam a se revelar, é o que esse arcano vem dizer. E não são, nem de longe, momentos fáceis. É o que alguns chamam de lei cármica, ajuste cármico, carma.
Pode simbolizar, portanto, ajustes necessários, negociações, intenções, a necessidade de sermos honestos conosco.
Aqui temos a correção de nossos atos, seja por nossas próprias mãos ou pela mão de Ma’at.
Nos fala também da equidade, probidade, honestidade, o triunfo daqueles que ficam do lado da lei, a manifestação da justiça que muitas vezes não entendemos. Nos fala do receber o que se é merecido, a necessidade de encarar a verdade de uma situação com honestidade... ou da desonestidade e negação em ver a verdade.
Outras Deusas relacionadas a esse arcano: Astrea, Diké, Ananke, Temis, Nemesis e Líbia.
PALAVRAS-CHAVE: Ajuste, carma, equilíbrio, transigir, ação, reação, organização.
ASPECTOS POSITIVOS: Equilíbrio, disciplina, harmonia, organização, honestidade, verdade.
ASPECTOS NEGATIVOS: Dureza, intransigência, intolerância, injustiça, parcialidade, erro de julgamento.
PERSONALIDADE: Alguém ligado às leis, alguém que julga ou que é julgado, com discernimento ou não, dependendo das cartas que a acompanham.
Figuras: Hand of Destiny e Universal Goddess
[i] O Tarô da Deusa Tríplice, p. 137.