29 de março de 2003

Warlock

Inútil será o cetro de poder se a mão que o empunha desconhece a força da misericórdia.
Inútil será a palavra sábia se a boca que as profere desencoraja e fere uma criança.
Inútil será o poder da Magia se não puder transformar o coração e a mente do Mago.

(Dalva Agne Lynch)

23 de março de 2003

Olá pessoal,

Esse blog foi uma idéia nossa para podermos divulgar alguns materiais e tópicos referente à bruxaria e paganismo em geral. São os mesmos temas que rondam pela nossa lista e que agora estarão à disposição das pessoas que não fazem parte da Caldeirão de Circe.

Aqui não existem mestres, só eternos buscadores da verdade e sabedoria.
Não estamos aqui divulgando dogmas e preceitos, mesmo porque não seria o lugar ideal para isso.
Estamos aqui para aprender mais e mais e compartilhar com todos o nosso aprendizado.

Esse espaço está aberto para comentários e troca de idéias rápidas, já que as discussões mais "demoradas" serão debatidas dentro da lista.

Então, sintam-se à vontade e curtam a grande mistura que vai resultar dessa troca de idéias!!!

Beijos a todos!!!!

22 de março de 2003

PAGANISMO II

Por Claudio Crow Quintino:claudiocrow@uol.com.br
1.
Paganismo e Neo-Paganismo
Estive anotando algumas idéias que me surgiram recentemente e, após ler algumas das últimas mensagens postadas na lista (OUTRA lista, n. do A.), fui levado a algumas reflexões que julgo importantes, as quais gostaria de compartilhar com os demais participantes da lista.
Em primeiro lugar, tenho notado uma grande confusão quanto à historicidade dos fatos discutidos em algumas msgs. A começar pela noção de PAGANISMO E NEO-PAGANISMO.
Nenhum de nós, petencentes a tradições como Wicca, Druidismo, Stregheria e outras facetas da Religião da Deusa, poderia em sã consciência se intitular Pagão - pelo simples fato de que o Paganismo, o culto do "pagus" (Campo, Natureza) originário da Europa, deixou de existir há muito tempo, salvo em um ou outro rincão isolado. Todos sabemos que o Druidismo existente hoje é uma re-leitura dos conhecimentos druídicos originais. Sabemos também que a Wicca possui inflências Celtas, mas está muito longe de ser o mesmo que Religião Celta.
Assim, para efeito de diferenciar um do outro, acredito que o ideal seria utilizarmos os termos pagão e neo-pagão. Para facilitar, contudo, muitos utilizam apenas "pagão", independente da época de que se esteja falando. Mais importante que o termo, porém, é o tema. E creio que É VITAL QUE SAIBAMOS DIFERENCIAR AS TRADIÇÕES MODERNAS DAS ORIGINAIS.
Essas tradições originais chegaram até nós de diversos modos: pela preservação de costumes populares, pelo estudo de sociólogos, lingüistas, arqueólogos, folcloristas, etc., através do sincretismo religioso, pelos tais rincões que preservaram de modo até certo ponto puro o conhecimento e os mistérios das tradições antigas.
Baseados nessas informações, alguns indivíduos ou grupos de pessoas resgataram e reacenderam a chama dos antigos cultos pagãos, dando origem a tradições Neo-pagãs - ou seja, uma nova forma de paganismo, inspirada nas antigas tradições, mas sem vínculo direto com elas.
Tomemos o exemplo da Wicca, a mais brilhante e conhecida forma de Neo-paganismo. Quando da minha última conversa com a Marcia Bianchi aqui em São Paulo, lembro-me que concordamos que a Wica (com um "c" só - o segundo veio depois) apresentada por Gerald Gardner tinha pouco a ver com o que ela representa hoje.
Costumo dizer que os bons Wiccanos hoje reconhecem os méritos do Sr. Gardner como compilador das antigas tradições, mesclando elementos de diversas tradições na formação da Wicca como a conhecemos. Mas a Wicca, por seus méritos intrínsecos, livrou-se de seu criador, e hoje é muuuuito maior do que ele.
Para efeito de comparação, vejamos o caso de Thelema. É impossível falar de Thelema sem falar de Crowley. Mas hoje dá para falar de WICCA sem falar de Gardner.A Wicca adaptou-se à sua época, e hoje é definitivamente uma Religião, com crenças e filosofias próprias. Digo "hoje" porque antes não era - era apenas um "sistema de magia", como alguns adoram rotular.
A Wicca hoje é então uma Religião, que oferece aos que a procuram uma ótima oportunidade de compreender seu papel no universo, compreender que fazemos parte de um todo, compreender que a vida já é um ato de magia, e que, muito mais do que um celebrador de rituais ou um lançador de encantamentos, o verdadeiro Wiccano é um adorador da Vida - ou assim deveria ser. Mas disso falarei no próximo e-mail...
2.
- Sobre Wicca e discussões na lista.
Fico entristecido quando vejo discussões na lista motivadas pela defesa de pontos de vista pessoais quanto a aspectos MERAMENTE ACESSÓRIOS da Wicca. O tamanho de um athame, o material de seu bastão, a cor das vestes rituais (Ah! Isso dói...), Roda do Sul ou do Norte - isso são temas que serão eternamente revisitados, O QUE É SAUDÁVEL, POIS NINGUÉM É DONO DA VERDADE. Deve-se discutir tais temas, porém, com a mente livre de quaisquer doutrinamentos.
Afirmar que "é assim, tem que ser assim, por que comigo (ou no meu círculo) éassim" é derrubar todos os preceitos básicos da Wicca. Ok, também não pode haver um excesso de liberdade, para que haja coerência.
Mas afinal, quais são os preceitos básicos da Wicca? Semanas atrás, a Marcia descreveu muito bem, como de costume, o que deveria caracterizar um Wiccano. Mas nós sabemos que existem inúmeras, infindáveis tradições Wiccanas diferentes, muitas delas oferecendo conjuntos de crenças diferentes, por vezes contrárias entre si. Todas elas cultuam os Divinos Feminino e Masculino, todas elas se integram aos ciclos da natureza, mas variam nos detalhes.
Por que? Porque existe a noção de liberdade - e essa liberdade funciona assim: se respeito esses preceitos básicos, eu posso celebrar um ritual nu ou trajando uma túnica de algodão puro, ou ainda uma capa de seda roxa com pedras preciosas incrustadas... posso abrir o círculo começando pelo norte, ou pelo leste, ou ainda pelo Sul-sudoeste... Posso traçar o círculo mágico com um athame de prata importado, ou com uma faca inox de pesca, ou com a saudosa faquinha de Bolo Pullmann... Posso celebrar a Roda do Ano de acordo com o Hemisfério Norte, ou o Hemisfério Sul ou ainda a Roda da Linha do Equador, ou a Roda Quadrada, ou a Quadra Rodada, ou o Triângulo do Sapo Leitoso... o que importa? Para quem isso é importante?
Afinal, por que clebramos a Roda do Ano? Não é a Roda um método de contato com as energias da Natureza, com os Divinos Masculino e Feminino? Não é um modo de conhecermos e honrarmos os Deuses da Terra?
E acaso esses deuses vão se ofender, vão nos punir se fizermos deste ou daquele modo? Não creio. Creio sim que eles se emocionem, se engrandeçam, com a nossa simples lembrança, com nosso amor por eles - amor sincero. Amor autêntico, daqueles que vêm de dentro mesmo, rasgando tudo. Para mim, a sensação de cultuar os deuses antigos é igualzinho àquele arrebatamento que sentimos ao ver, ao lembrar, ao falar da pessoa que amamos. Sabe aquele pueril friozinho na barriga que dá quando vemos a pessoa de que gostamos? Então, os
deuses para mim são assim!
Acho que o grande erro é fazer por fazer. Digo e repito que os rituais são como sexo (e afinal, temos lá o grande rito, não é?) - Alguém já tentou transar sem sentir tesão? (Dizem que as mulheres até conseguem fingir - mas eu sempre achei que deve ser uma m... de situação...) Se não houver tesão pelo ritual, não vai rolar! Imaginem transar pensando que o lençol tá amarrotando, ou que o cabelo tem que ficar penteado, ou que o suor pode desfazer sua maquiagem... Mesma coisa num ritual. Se a pessoa estiver mais preocupada com a "liturgia", com a cor disto ou daquilo, com o tamanho disto ou daquilo, com a direção disto ou daquilo, não vai rolar!!!! A parte fundamental da estória toda é: ame os deuses! Reconheça o Divino na Vida! Celebre os deuses e a Vida, não só nos rituais, mas em cada dia, a cada momento de sua vida!!! O resto é resto...
Voltando às discussões sobre os temas acessórios da Wicca, temos que lembrar que muitas das chamadas tradições "ecléticas" da Wicca utilizam deuses de diversos panteões em seus rituais. Deidades Celtas, Gregas, Egípcias, Sumérias, são postas lado a lado em altares e preces, rituais e orações... será que isso é legal? Veremos no próximo e-mail.
3.
Muitos autores Wiccanos afirmam que "todas as Deusas são aspectos de uma só Deusa, assim como todos os Deuses são faces de um Deus único."
Isso justificaria a opção comum de muitos Wiccanos em celebrar seus rituais, montar seus altares, etc, utilizando deidades de panteões diferentes. Claudiney Prieto, em seu livro "WICCA: A RELIGIÃO DA DEUSA", alerta para os riscos de se evocar deuses de panteões diferentes, ou ainda deuses que seriam rivais em um mesmo panteão. Ele ainda afirma que prefere cultuar um Deus e uma Deusa sem nomes específicos, valendo-se apenas de seus temas, suas facetas - ou seja, "A Anciã," "O Senhor da caçada", e por aí vai.
Pergunto - ou melhor, proponho que vocês se perguntem, e respondam para si mesmos - qual o caminho mais indicado? Por ser a Wicca - e quase todos os Caminhos pagãos e neo-Pagãos - uma religião que pede respostas íntimas, equilibradas igualmente nas emoções e na análise racional do tema, a resposta é PESSOAL.
A minha resposta a tal pergunta seria a seguinte: na Wicca, a união de diversas deidades distintas se justifica pelo culto aos chamados "arquétipos" da Deusa e do Deus. Todos seriam um, todas seriam uma. Se é assim, então não existe a menor necessidade de se individualizar o culto a este ou aquele deus individual, a este ou aquele panteão. O que vale mesmo é a idéia central, a noção básica. Isto está perfeitamente de acordo com a Wicca e com suas práticas, e mais uma vez parabenizo o Claudiney pela coragem em espor a sua visão pessoal em seu livro. DENTRO DO CONTEXTO DA WICCA, isso é perfeito. Isso até justificaria a inversão da Roda do Ano, pois se eu lido com as forças masculina e feminina presentes na natureza, sem lhes dar nomes, eu interajo com o que vem acontecendo ao meu redor, livre das influências das conhecidas egrégoras das deidades.
Contudo, existem outras correntes pagãs, também voltadas ao culto aos deuses antigos, como o Neo-Druidismo, o Reconstrucionismo Celta e outras, as quais embasam suas práticas mágico-religiosas na recuperação dos ritos ancestrais às respectivas deidades. Nesses casos, é impensável para um
reconstrucionista celta, por exemplo, evocar em um ritual Inanna, a deusa mãe Suméria, ou o hindu Çiva... isto porque essas correntes pagãs honram seus deuses como forças individuais, e não como facetas de um mesmo deus. Um exemplo que uso sempre é o seguinte:
eu nasci no Brasil, o que faz de mim um brasileiro. Eu sou do sexo masculino, o que faz de mim um homem; eu sei escrever, o que faz de mim um
alfabetizado. Então, por reunir esses três itens (brasileiro, homem, alfabetizado) eu, Garrincha e José Bonifácio somos a mesma pessoa... ora, possuímos alguns pontos em comum, mas não somos uma única pessoa! Estamos inclusive separados pela época em que vivemos - sem contar que dois já morreram (garanto que eu não!).
Então, o fato de um determinado deus ou deusa possuir um tema em comum com outro deus ou deusa de um pantão diferente, não faz necessariamente deles um único deus ou deusa!
Se se opta pelo culto a deuses individuais, devemos respeitá-los como tal - como indivíduos! Se por outro lado optamos por cultuar os Princípios Divinos Masculino e Feminino, como creio seja o caso da Wicca, fica tudo mais simples e COERENTE se não se dão nomes individuais a essas forças.
Para concluir este tema, quero comentar um ponto delicado, mas que merece consideração por parte da lista. Se todas as Deusas são uma Deusa e todos os Deuses são um único Deus, o que me impediria de montar um altar Wiccano com de um lado uma imagem de Maria ("A Rainha do Céu", a "Mãe do Deus", entre outros nomes que foram primeiro atibuídos à egípcia Ísis...) e do outro a de Jesus (o filho da Senhora e do Deus, o Pastor, título de Dumuzi, a Criança Prometida)? Não estou dizendo que isso é ou não possível, só estou puxando a reflexão de vocês!
Dizer que o cristianismo é incompatível com a Wicca porque a Wicca resgata valores pagãos opostos ao cristianismo é um erro grave. Pior ainda é usar o já malhado papo da Inquisição... Veremos o porque no próximo email...
4.
Então vamos lá. Após analisar, na última mensagem, as visões Wiccanas dos deuses, perguntei: "se todas as Deusas são uma Deusa, e todos os Deuses são um Deus, como afirmam os pensadores Wiccanos, por que não utilizar uma imagem de Maria e outra de Jesus no altar, uma vez que ambos são releituras das antigas deidades da Terra?" Terminei dizendo que alegar que o cristianismo não tem nada a ver filosoficamente com o Paganismo Wiccano é um erro - basta ver o quanto em comum os mitos Osíricos, Mitraicos e Dionisíacos têm a ver com a estorinha do JC, ou o quanto Maria foi influenciada por Ísis e Cibele - só para citar alguns exemplos. Também é errado afirmar que foi por causa da Inquisição que o Paganismo perdeu força. Vejamos porque.
Os Neo-pagãos, em sua esmagadora maioria, adoram citar a Inquisição como o momento em que o paganismo quase foi extinto, sendo salvo graças a umas poucas abnegadas criaturas que desafiaram as fogueiras em nome de sua fé.
Isso é verdade - mas não toda a verdade.
Podemos começar lembrando que o tribunal da Santa Inquisição, a cargo dos Monges Dominicanos, foi criado pela Igreja de Roma no séc. XI, para suprimir a heresia Cátara, um movimento gnóstico cristão que se expandia com avassaladora rapidez no sul da França. Ou seja, cristão contra cristão... depois, obviamente, a Ordem Dominicana gostou da brincadeira, e o fervor religioso deu origem ao terror. Muitos pagãos certamente perderam suas vidas nas mãos dos torturadores e carrascos, mas temos que lembrar que a maioria das vítimas das fogueiras não eram pagãos e sim judeus (sempre eles, perseguidos...).
Voltando aos pagãos, temos que lembrar que o paganismo há muito havia sido banido pela igreja (e pela própria população, sim, senhores). Um pouco de história:
as crenças dos Celtas, conquistados pelos Romanos no continente europeu e na Grã Bretanha (mas não na Irlanda), foram absorvidas ou obliteradas pela religião romana, que já vinha absorvendo várias crenças de outros povos - um exemplo claro é o culto dos legionários romanos ao deus persa Mithras, ao mesmo tempo em que cultuavam a gaulesa Epona. Outro exemplo vem do próprio Constantino, o célebre imperador que converteu o Império Romano ao cristianismo. Ele originalmente adorava o deus Sol Invictus, também de origem médio-oriental e até certo ponto similar a Mithras. Ora, onde andavam Minerva, Vênus, e todas as outras deusas Romanas? Já havia muito tempo que elas não eram mais cultuadas com a mesma força por Roma. Aliás, diga-se de passagem, uma das deusas mais populares em Roma pouco antes da "conversão" de Constantino era a egípcia Ísis... para se ter uma idéia do fervor com que Ísis era cultuada em Roma, o legislador romano Apuleius escreveu um texto em bom latim no qual Ísis diz: "Eu sou a Natureza, a Mãe Universal, senhora dos elementos, criança primordial do tempo, soberana de todas as coisas espirituais, Rainha dos Mortos, Rainha também dos Imortais, a única manifestação de todos os deuses e deusas que existem." Isso quase dois milênios antes da Wicca!
Voltando: apesar do culto a Ísis, Roma já havia perdido há muito o seu vínculo com o "Pagus", com as deidades da Natureza. Afinal, é bom que se deixe isto bem claro, o patriarcado assumiu papel determinante nas religiões antigas já na transição da Idade do Bronze para a Idade do Ferro - muito tempo antes de Roma constituir seu Império...
A renomada historiadora Marija Gimbutas afirma que o paganismo matriarcal começa a perder energia com a chegada de duas ondas migratórias simultâneas à região da Mesopotâmia e adjacências - a dos indo-europeus e a dos semitas. Ambos os invasores cultuavam deuses do Céu, do Trovão, da Guerra. (Não surpreende, portanto, que os hebreus, herdeiros dos semitas, tivessem tão pouco respeito pela natureza - como mostra o Torá, o Velho Testamento - Ide, e SUJEITAI as criaturas da terra... [Gênesis]). O que surpreende é que os indo-europeus, tão violentos e cultuadores de deuses Celestes semelhantes, tenham posteriormente originado os Celtas. Isso prova que, quando os celtas surgiram da fusão das culturas locais da Europa
com a cultura indo-européia, eles mantiveram muitos traços dos habitantes autóctones. Ainda bem!)
Voltando: essa mudança do matriarcado, do culto à Natureza, para as religiões patriarcais, qua adoram um Deus distante, aconteceu em tempos diferentes mas em quase todas as civilizações. Primeiro os Sumérios, Babilônios, Assírios, Cretenses - depois Gregos, Romanos e os demais, todos esses povos alteraram suas mitologias e seus cultos. Deixaram de adorar uma Deusa Mãe e seu filho/amante e passaram a cultuar um Deus soberano, normalmente guerreiro - reflexo da
sociedade de então, que passava a ser dominada por uma casta de reis guerreiros.
Falei tudo isso para chegar a um ponto: por mais que soe estranho afirmar isto, a Inquisição tem bem pouco a ver com o fim do Paganismo, pelo simples fato que o paganismo já estava praticamente morto quando da Inquisição. Isto porque séculos antes, quando os Romanos adotaram o cristianismo como religião oficial do Império, eles já haviam massacrado os antigos cultos à Terra - não só dos celtas, mas também os deles próprios. Os templos pagãos de Roma foram fechados, alguns inclusive destruídos. O Templo de Ísis em Roma não fugiu à regra. Todos agora voltavam sua atenção ao culto a um Deus Celeste e a seu filho.
Mas o controle romano não era assim tão perfeito, e nos pontos mais isolados do Império os cultos Pagãos enfraqueceram mas jamais desapareceram. Com a queda do Império Romano, o controle sobre a população desapareceu, e quem passou a exercer influência foi a Igreja cristã... de Roma! Seis por meia-dúzia... mas os primeiros anos do cristianismo são muito interessantes, pois existiam muitas correntes diferentes de cristianismo, com muitos pontos em comum, mas muitas diferenças também. Chegou-se a um ponto em que ninguém concordava com ninguém, e todos defendiam o seu cristianismo como o real, o verdadeiro. Algo muito parecido com o que o Paganismo vem vivendo hoje. Por exemplo: uns afirmavam que Cristo era filho de Deus, outros que ele era o próprio Deus, outros mais que ele era apenas um profeta... para se ter uma idéia, só se chegou a um consenso sobre a condição do JC no Concílio de Nicéia, quando POR VOTAÇÃO (!!!), decidiu-se que Cristo era "o filho de Deus"... tomara que o paganismo pare de discutir bobagens do gênero e perceba o risco que corre. Afinal, no caso do cristianismo, a facção que saiu fortalecida foi justamente a mais tirânica - a Igreja de Roma... foi ela que patrocinou, séculos depois, os violentos ataques às heresias, as cruzadas, a Inquisição. Tudo para impor a SUA versão, a SUA doutrina... QUE ISSO NÃO SE REPITA ENTRE NÓS!
Mesmo assim, algumas formas de paganismo sobreviveram ao cristianismo, principalmente na Irlanda, que nunca foi romanizada e só foi cristianizada no séc. IV - e mesmo assim, desenvolveu um cristianismo todo diferente, mesclando muitas das tradições pagãs locais.
(Tanto é que, se hoje podemos celebrar Samhain (palavra irlandesa - Samh (verão) + Fuinn (fim), ou seja, fim do Verão), se hoje conhecemos os mitos de Brighid, Dagda e Lugh, devemos agradecer aos primeiros monges cristãos da Irlanda, que transcreveram os antigos cultos e lendas irlandesas!)
O problema é que na maioria dos casos, principalmente no continente europeu, o paganismo se resumia a práticas rituais com pouco ou nenhum conteúdo filosófico. Mantinham-se as tradições, mas perderam-se os Mistérios. E rituais sem filosofia não passam de "simpatias," de FOLCLORE.
Por isso, visando a dissipar dúvidas como estas, que assolam a maioria dos pagãos por aqui, é que me dispus a escrever "A RELIGIÃO DA GRANDE DEUSA". Por isso também é que queimei minha pestana em horas preciosas de um feriado para escrever estes textos. É para isso que creio que existam listas como esta. Assim, podemos discutir aspectos mais profundos, REALMENTE importantes do neo-paganismo no Brasil, e buscar conhecer mais um pouco da filosofia que abraçamos. Sem esse conhecimento, qualquer prática ritual não passa de
superstição.
E com esse conhecimento, bobagens como "A Wicca surgiu no Neolítico e é a Religião dos Antigos Celtas", ou "a Inquisição é responsável pelo fim do Paganismo" deixam de ser repetidas a esmo por pessoas que não pesquisam a fundo a sua própria filosofia.
PAGANISMO

O termo "pagão" vem originalmente do latim "paganus", que parece originalmente ter tido significados tais como "aldeão", "habitante dos campos" ou "caipira". O exército romano usavam este termo para se referir aos civis. Os primeiros cristãos romanos usaram "pagão" para se referir a qualquer um que preferisse cultuar divindades pré-cristãs, as quais os cristãos decidirem que era todos "realmente" demônios disfarçados, baseados no hábito que as famílias rurais tinham de se apegar às suas antigas fés mais do que as famílias urbanas, assim como porque os politeístas se recusavam a fazer parte do "Exército de Deus." Conforme os séculos se passaram, "pagão" tornou-se simplesmente um insulto, aplicado aos seguidores monoteístas do Islã pelos cristãos (e vice-versa), e pelos protestantes e católicos a qualquer coisa que gradualmente ganhasse a conotação de "uma falsa religião e seu seguidores." No começo do século vinte, o principal sentido desta palavra tornou-se uma mistura de "ateu", "agnóstico", "hedonista", "pessoa sem religião" etc (quando se referindo a uma pessoa educada, branca, do sexo masculino, heterossexual e não-européia) e "selvagem ignorante e/ou pervertido" (quando se referindo a todo o resto do mundo).
Hoje há muita gente que chamam a si mesmas orgulhosamente de "pagãos" e usam a palavra de forma diferente da maioria dos ocidentais. Para muitos de nós, "Paganismo" é um termo universal para religiões politeístas, antigas ou novas, com "pagão" sendo usado como um adjetivo, bem como um termo usado para quem passa a praticar uma religião desse tipo. A maioria esmagadora de todos os seres humanos que já viveram foram ou são pagãos e nós acreditamos que há um enorme valor de insights espirituais e força a serem ganhados ao se seguir um caminho pagão. Há três pontos importantes a serem notados aqui, entretanto:
 Como os membros de qualquer outra comunidade religiosa, nós, pagãos, temos o direito de definir a nós mesmos e de exigir que as nossas definições, mais do que aquelas (ou as complementando) inventadas por indivíduos ou instituições hostis a nós, sejam mencionadas ou referidas quando são discutidas pela comunicação de massas.
 Assim como os nomes de qualquer outra religião, "Paganismo" merecem uma letra maiúscula, como acontece com Budismo, Cristianismo, Protestantismo ou Bahai.
 Como outros termos universais usados para as religiões, Pagão/Paganismo requerem prefixos ou adjetivos com o objetivo de exemplificar abordagens específicas, denominações ou sectos. Os termos abaixo são os que foram estabelecidos nos últimos trinta e cinco anos:
"Paleopaganismo" ou Paleo-Paganismo" é um termo universal para as fés originalmente politeístas, centradas na natureza dos povos tribais da Europa, África, Ásia, América, Oceania e Austrália, quando elas eram (e em alguns casos, ainda são) praticadas como sistemas de crença intactos. As ditas "Grandes Religiões do Mundo", Hinduísmo (anterior ao influxo do Islã na Índia), Taoísmo e Shintoísmo, por exemplo, caem dentro desta categoria, ainda que muitos membros destas fés relutem em usar o termo. Alguns sistemas de crenças paleopagãos são racistas, sexistas, homofóbicos etc. Há bilhões de paleopagãos vivendo e cultuando os seus deuses atualmente.
"Mesopaganism" ou Meso-Paganismo é um termo universal para uma variedade de movimentos, tanto organizados quanto não-organizados, que começaram como tentativas de recriar, reviver ou continuar o que seus fundadores achavam que eram os melhores aspectos dos caminhos paleopagãos dos seus ancestrais (ou predecessores), mas que foram altamente influenciados (acidentalmente, deliberadamente e/ou involuntariamente) por conceitos e práticas provindas das visões de mundo monoteístas, dualísticas ou ateístas do Zoroastrismo, Judaísmo, Cristianismo, Islamismo e do Budismo mais recente. Exemplos de sistemas de crenças mesopagãos incluem a Maçonaria-livre, o Rosacrucianismo, a Teosofia, o Espiritualismo etc, assim como aquelas formas de Druidismo influenciadas por esses movimentos, as muitas fés africanas sobreviventes nas Américas (tais como o Vodu, a Santeria, o Candomblé etc), Sikhismo, muitos sectos do Hinduísmo que foram influenciados pelo Islamismo e Cristianismo, Budismo Mahayana, a religião/filosofia de Aleister Crowley, chamada Thelema, Odinismo (Paganismo Nórdico), muitas "Tradições Familiares" de Bruxaria (aquelas que não são completamente falsas) e grande parte da Wicca ortodoxa (isto é, a Wicca Tradicionalista Britânica).
Também incluídos como Mesopagãos poderiam estar os assim chamados "Pagãos-Cristãos", aqueles que chamam a si mesmos de "Pagãos monoteístas", e talvez aqueles satanistas que cultuam o deus egípcio Set, se realmente há algum deles. Os satanistas que insistem que eles não cultuam nada além deles mesmos, mas que gostam de usar o nome Satã por causa do seu significado "amedrontador" são simplesmente cristãos heréticos, assim como os Humanistas Seculares e outros ateus ocidentais, pois o Deus e o Demônio no qual eles não acreditam são aqueles definidos pela doutrina cristã. Alguns sistemas de crenças mesopagãos são racistas, sexistas, homofóbicos etc. Existem pelo menos um bilhão de mesopagãos vivendo e cultuando as suas deidades hoje.
Neopaganismo ou Neo-Paganismo é um termo geral para uma variedade de movimentos, tanto os organizados quanto os não-organizados (a maioria), que surgiram a partir por volta de 1960 A.D (apesar de que eles tiveram fontes literárias provindas desde meados do século 19), e que são tentativas de recriar, reviver e continuar o que os seus fundadores acharam que eram os melhores aspectos dos caminhos paleopagãos dos seus ancestrais (ou predecessores), combinado com ideais humanistas e pluralistas modernos, ao mesmo tempo que esforçando-se conscientemente para eliminar tanto quanto possível o monoteísmo, dualismo e puritanismo tradicionais do Ocidente. A essência das crenças neopagãs incluem uma multiplicidade de deidades de todos os gêneros sexuais, uma percepção destas deidades como sendo tanto imanente quanto transcendente, um compromisso com as causas ecológicas e uma disposição para executar rituais mágicos, assim como espirituais, para ajudar a si mesmos e aos seus semelhantes. Exemplos de Neopaganismo incluiriam a Igreja de Todos os Mundos, a maior parte das tradições wiccanas heterodoxas, o Druidismo conforme praticado pela Ár nDraíocht Féin e pela Henge of Keltria, algumas ramificações do Paganismo Nórdico e algumas formas modernas do Budismo, cujos membros referem a si mesmos como "Buddheo-Pagans." Os sistemas de crença neopagãos não são racistas, sexistas, homofóbicas etc. Há centenas de milhares de neopagãos vivendo e cultuando as suas deidades atualmente. O termo "Neopaganismo" foi popularizada nos anos 60 e 70 por Oberon Zell, um dos fundadores da Igreja de Todos os Mundos.
O termo "Neopaganismo" não tem nada a ver com o uso recente pela Igreja Católica para designar o Mesopaganismo Germânico de Hitler, que incorporava anti-semitismo e dualismo cristão do século dezenove. Hitler, apesar de tudo, considerava a si mesmo um bom cristão e era considerado como tal por muitos, se não pela maioria, dos cristãos germânicos daquele tempo. A Igreja Católica está simplesmente tentando distrair atenção da sua responsabilidade de ter criado um ambiente cultural no Ocidente que desumanizava os judeus e do seu passado patético em se opor ao Holocausto enquanto ele estava acontecendo (sem mencionar o valor para a Igreja em caluniar novas religiões, associando-as com os nazistas).
Estes três termos não delineiam categorias bem definidas. Historicamente, freqüentemente há um período, décadas ou séculos, em que o Paleopaganismo se mistura ao Mesopaganismo, ou o Mesopaganismo se mistura ao Neopaganismo. Além disso, os fundadores e membros de grupos mesopagãos e neopagãos freqüentemente preferem acreditar (ou pelo menos o declaram) que eles genuinamente paleopagãos em crenças e práticas. Este "mito da continuidade" é vantajoso para os costumes da maioria dos criadores e membros de novas religiões por toda a existência humana e não deveria ser levados muito à sério.
Quando fizer uma pesquisa na net, você deveria estar alerta de que algumas pessoas colocam e outras não colocam hífen nestes termos, especialmente "Neo-Paganismo" e de que muitos neopagãos ignoram o "Neo-" totalmente (especialmente no dia-a-dia) e que muitas pessoas alheias a esse movimento recusam-se a escrever os nomes das nossas religiões com letra maiúscula. Para aumentar a confusão, muitos mesopagãos e paleopagãos se recusam a usar o termo "pagão" para designar a si mesmos, tendo aceitado as definições correntes do Cristianismo. Um sinal de progresso, entretanto, ocorreu quando os editores do Hinduism Today – um jornal mensal fabuloso publicado em doze línguas no mundo inteiro – publicou um editorial alguns anos atrás no qual eles aceitamente orgulhosamente o termo "pagão" em nome do um bilhão de hindus do mundo!
Obviamente, o uso desse vocabulário está atualmente fora de controle e você pode precisar tentar usar várias formas de escrevê-los para achar o que você está procurando.
Parte desse material foi tirado do meu Pagan Glossary of Terms¸ em algum outro lugar do meu website. Eu irei algum dia ter uma página aqui que liste as definições de Paganismo e Neopaganismo escritas por outros autores e grupos.
Copyright © 1979, 2001 c.e Isaac Bonewits. Este texto pode ser distribuido livremente na net, desde que nenhuma edição dele seja feita, o número da sua versão seja mantido e tudo neste campo de aviso esteja incluído. Se você quiser fazer parte de uma ou mais listas de discussão de Isaac Bonewits, clique aqui para ler as informações sobre inscrição.
Tradução: Copyright © 2001 c.e Quíron.
Fonte: www.neopagan.net

21 de março de 2003

Mãe

Já foram tantas as palavras que te escrevi, já foram tantas as lágrimas que derramei, os risos que nasceram...
Já nem sei mais o que escrever.... Histórias dos caminhos que percorri? Contos das sendas que nem posso dizer que são minhas?
Tantas outras palavras hei de dizer, Mãe.
Mas não agora... agora me vejo coberta por seu encanto. Inundada por tuas águas, reconfortada por tua terra, ardendo em teu fogo, leve como é teu ar... Plena em ti, em mim...
É assim que hoje estou, Mãe... não tocada, remexida. Embora eu sinta que é exatamente por tudo isso que sou intocada, ainda que profana, sagrada... Parte de ti? Parte de mim? A união em si.
E é assim que desejo estar até que me diga que é chegada a hora de para outros mares navegar. Içarei minha jangada, tomarei meu posto. Aquele que me deste, aquele que fora meu em tempos idos.
Partirei assim como já partiu o Rei do Verão. Nascerei como nasce as folhas no outono.
Sim! Nascem. Nascer e morrer é o mesmo dentro da grande dança cósmica e é assim que quero pertencer à ela...
Nascendo a cada dia, ainda que morrendo...
Morrendo a cada noite, ainda que nascida.

Feliz Equinócio de Outono!


13 de março de 2003

Oi, povo!

Decidimos montar este blog para dividir nossos pensamentos, idéias, críticas e divagações sobre a Arte com outros amigos, buscadores e cultuadores dos Antigos.
Não se trata, porém, de um meio de divulgação de qualquer coisa no âmbito comercial. Cada uma aqui é também parte de você e como você: pessoa que batalha, que sonha, chora e ri. Pessoa que reconhece a vida e seus intrínsecos caminhos como a verdadeira e grande magia.
O primeiro passo para mergulhar no caldeirão dos mistérios da Grande Mãe e do Pai Antigo está em reconhecer que a magia se manifesta assim... vivendo.